sexta-feira, 13 de abril de 2012


O Tango no Espelho – Capítulo 2

De Junior Dalberto
MARIA RITA: (Não resistindo e falando no meio da mastigação). Prá onde?
JOÃO PAULO: Tenha modos, não fale de boca cheia. Quarta próxima embarcamos logo cedo pro Rio, ficamos até o dia seguinte na casa dos meus pais prá você os conhecer e na quinta à noite pegamos outro vôo prá Buenos Aires, ficamos até o domingo à tarde, então voltamos num vôo direto para Natal, que tal?
MARIA RITA: Gostei muito da viagem, não vou ter problemas no trabalho porque tenho dez dias de férias prá gozar, só não gosto (bebe um pouco do refrigerante) é de ter que ficar na casa dos seus pais, algo me diz que vou me aborrecer.
JOÃO PAULO: Bobagem, meus pais são só um pouco diferentes, pouco tradicionais, mas dá pra agüentar. Vamos pedir a conta, ainda quero passar no supermercado e já são 22h30min. Vai dormir lá em casa?
MARIA RITA: Vou sim, amanhã é sábado, quero dormir até mais tarde, vou deixar você no supermercado, passar em casa, pegar algo prá vestir e encontro você em sua casa.
E seguiram o curso combinado.
João Paulo morava num excelente apartamento doado pelos pais de presente de aniversário, localizado bem próximo a um grande supermercado da Avenida Roberto Freire, já Maria Rita morava numa casa no final da Rua Manoel Congo na vila de Ponta Negra com sua mãe, uma riponga culta, esquizofrênica, paranóica, freqüentadora de clinicas psiquiátricas e viciada em drogas leves e antidepressivos, e ainda seu irmão Java, um menino de 07 anos apaixonado pela irmã que substitui a mãe sempre que ela surta.
MARIA RITA: (Ao entrar em casa, encontra a mãe e o irmão vendo TV) Boa noite.

D. JAIRA: Boa noite querida, bom que chegou, tenho que sair já, vou visitar a minha amiga Suelen, ela chegou ontem da clinica.
JAVA: Ela pirou de novo?
MARIA RITA: Mãe, vou precisar sair novamente e não vou dormir em casa.
JAVA: Grande novidade não se preocupe comigo que eu me viro sozinho.
D. JAIRA: Eu sei meu curumim, (acariciando a cabeça do menino) você já é um hominho, prometo não demorar, vou num pé e volto noutro.
JAVA: É ruim heim, com essa lua cheia de hoje sua cabeça deve tá massa.
MARIA RITA: Que é isso menino? Mãe, que houve com a Suelen?
D. JAIRA: A Suelen estava super deprimida, não conseguia mais nenhum trabalho de atriz, rodou meio mundo em Natal e vizinhança, desgostosa decidiu freqüentar aquela igreja evangélica lá no Pium aconselhada pela sua irmã Gilda, a Igreja Jesus é a semente, você sabe qual é, próxima a penitenciária de Alcaçuz.
MARIA RITA: Mãe, (Impaciente) conta logo a história, tenho que voltar; o João Paulo está me esperando.
JAVA: Acho-o meio boiola. (Falando prá si)
D. JAIRA: Sugar baby, não existe meio boiola, (irritada) todo gay é inteiro, nunca vi só uma bunda andando pela rua, tem pé, mão, corpo inteiro, ok? Respeite a diversidade.
MARIA RITA: MÃEEE! Termina a história.
D. JAIRA: Calma C....... (Palavrão), quer me deixar doida?, Tudo bem, ela começou a freqüentar a igreja aos domingos e resolveu dramatizar algumas cenas bíblicas- meninos! Foi um sucesso.  Começou com o nascimento de Jesus, claro que ela fazia a Maria e sempre colocava as cenas maiores para ela, adora aparecer.  Viveu domingo após domingo, diversas personagens bíblicas. Dizem que a Salomé foi um sucesso, a igrejinha do Pium agora vive superlotada, vem gente até de Natal prá ver suas interpretações religiosas, o pastor lhe dá a maior força. Porém, há uns quinze dias atrás a minha amiga Suelen resolveu dramatizar no culto um dos milagres de Cristo: ¨A cura de um endemoniado¨ e ela, claro, que seria o próprio, falou-me: Uma personagem forte, na qual ela exploraria o máximo do seu talento. (caminha até a geladeira prá tomar água, deixando propositalmente o suspense no ar).
JAVA: P..... Mãe termine esse c...... De história, já to nervoso.
MARIA RITA: Calma Java é isso que ela quer.
D. JAIRA: (Voltando meio aturdida) Vocês viram se tomei meu Lexotan?
JAVA: MÃEEEE! (Nervoso)
MARIA RITA: Toma de novo.
D. JAIRA: Vou tomar dois, assim me acalmo, (Pega dois comprimidos que estão sobre a geladeira, engole-os e bebe água). Bem, continuando, vocês sabem que a Suelen já viveu em Berlin, estudando teatro, pois então, no dia do culto, o combinado era que ela seria a possuída por uma entidade demoníaca, e o pastor iria lhe tirar o diabo do corpo.
Entretanto, após começar o espetáculo, como diz Suelen, ela gostou do personagem, por mais que o pastor lhe balançasse de um lado pro outro, lhe puxassem os cabelos, gritassem nos seus ouvidos, ela não abandonava a possessão. E prá piorar mais ainda a situação ela teve a infeliz idéia de xingar toda a igreja em alemão, já imaginou a cena?
Dizem que foi coisa prá mais de vinte minutos, toda a igreja orando de joelhos, assustados, o pastor já acreditando que aquilo era obra do inimigo e a louca da Suelen se divertindo horrores, xingando, esbravejando, parecia os discursos anti semitas do Hitler, para infortúnio da maluca, surge uma mulher de aproximadamente quarenta anos, que estava sentada lá nos fundos da igreja, e que fora ex-dançarina, ex-drogada e ex-prostituta.  Havia trabalhado com o corpo em cinco países europeus, possuía até carteira assinada de prostituta pela prefeitura de Paris.  Viveu os últimos cinco anos nos guetos alemães, de onde contraiu o vírus da AIDS.
Agora, freqüentava a mesma igreja da Suelen.  A ex-várias coisas diante da confusão armada dentro da igreja, caminhou com elegância ate a pseudo-possuída, chegou bem perto do ouvido da atriz e falou em fluente alemão: Eu sei que estás tirando onda com os irmãos, pára com isso agora ou eu abro o boca, e você sai daqui na porrada, tá ligada? Suelen surpresa, deixou o corpo pender pra o chão como num súbito desmaio, em seguida abre bem os olhos e olha para todos os lados, dramática- pergunta docemente ao público: O aconteceu? Dizem que os gritos alegres de aleluia, por verem a irmã atriz liberta do inimigo, ressoam até hoje em Tabatinga.

MARIA RITA: Sim e daí? Isso não é motivo prá ela ser internada.
D. JAIRA: No final do culto a ex – C......monte de coisas, foi até o pastor e relatou toda a história do xingamento em alemão, o pastor chamou a cúpula da igreja juntamente com a minha amiga e colocou-a de joelhos no centro da igreja, passaram toda a noite orando por ela, diziam que ela foi realmente possuída pelo inimigo para fazer aquela perturbação, foi tanta lavagem na mente da minha amiga, que a pobre Suelen surtou, saiu da igreja dentro de uma ambulância da SAMU direto pro hospital dos doidos. Teve alta ontem.
MARIA RITA: Só assim ela abandona essa idéia maluca.
D. JAIRA: Quem disse? Ela já me ligou hoje, falando que já aprontou a próxima resenha, vai viver no próximo domingo a Maria Madalena, fez modificação na história da ex-pecadora.  Quem grita, atire a primeira pedra, será ela própria e não o Cristo, já está até produzindo pedras cinematográficas que serão entregues no inicio do culto, caso alguém se emocione com sua interpretação e resolva lhe atirar pedras. Fazer o quê com minha companheira de clínica? No mínino prestigiar! No domingo irei ver o espetáculo e aplaudir.  Bem, chega desse assunto, (já na porta e saindo) Fui.
JAVA: Essa nossa mãe!
MARIA RITA: Você tem meu número de celular, qualquer coisa me liga, ok? (Beija o menino na testa)

JAVA: Tchau. (Diante da TV, sem olhar prá irmã).
Após caminhar durante vinte e cinco minutos pela Rua Manoel Congo, D. Jaira passou pela praça do cruzeiro e observou que a casa da amiga Suelen estava fechada com as luzes apagadas, resolveu seguir até a praia. Precisava de um bom banho de mar, com os logos e soltos cabelos crespos, D Jaira estava com 44 anos e aparentava bem menos apesar dos problemas depressivos, era magra, com 1,70 de altura e bonita.Vestia uma curtíssima blusa de algodão fina e florida em tons azuis que deixava o umbigo de fora, trajava também uma pequena saia jeans, customizada de uma antiga desbotada calça Lee. Enquanto caminhava em direção a praia, pensava em como eram legais os seus filhos, nunca questionaram a falta do nome do pai na certidão de nascimento, se bem, que também ela não sabia, coincidentemente os dois foram gerados nos festivais rock in rio, a Maria Rita no primeiro do Rio de Janeiro, durante o show do Ozzy Osbourne, numa das barracas de Deus sabe quem, porque ela não se lembra de nada além de muita droga, sexo, musica e bebidas. Tinha apenas dezesseis anos. 
O Java é fruto do Rock in Rio em Lisboa de 2004, dele consegue lembrar um pouco da fisionomia do rapaz, acha que era um marroquino, moreno, lindo, gostoso, de olhos negros sedutores que o pequeno Java herdou.  Lembra ainda que fumaram bastante haxixe, terminando fazendo amor numa tenda cigana, foi também muito legal, mas como o pai de Maria Rita, esse também sumiu com os acordes das guitarras dos metaleiros.

A brisa marinha trouxe o cheiro do mar até D. Jaira, o som das marolas das ondas nas areias da praia, já chegavam aos seus ouvidos, mais uns vinte metros e estaria mirando o mar de Ponta Negra, a lua já estava longe, deve ser próximo de meia noite (Pensou). Terminou de descer a ladeira, dobrou à direita em direção ao morro do careca, sobressaltou-se com a visão de um homem sentado sem camisa sobre o banco de uma jangada nas areias da praia em frente da pousada da Pipa.
Ao se aproximar curiosa, viu que era um negro que exibia escancaradamente um peitoral perfeito, de onde parecia querer saltar pela forte respiração, os intumescidos bicos dos mamilos, vestia apenas uma calça branca no estilo dos capoeiristas da vila, fumava e olhava pro mar com um olhar perdido na imensidão, excitada, a D. Jaira dirigiu-se até a jangada onde o homem estava, observou que o mesmo não devia ter mais de trinta anos, alto e com um físico magnífico, o rapaz ao vê-la se aproximar, deu um largo sorriso mostrando a brancura dos dentes perfeitos, era um belo exemplar de macho. (Pensava com desejo D. Jaira).
D. JAIRA: Tudo bem? Tem outro cigarro?
MESTRE DADO: Tenho desse, e de outro bem melhor.
D. JAIRA: Oba, já vi que vamos nos entender, (Estendendo a mão, e olhando prá distante lua) prazer Eva Luna.
MESTRE DADO: Mestre Dado. (Apertou a mão segurando um pouco, para em seguida passar um baseado pra mulher) Acendo?
D. JAIRA: Claro, você é novo por aqui? Hei, sua cabeça está sangrando?
MESTRE DADO: Estou aqui há dois meses, vim de Santos, trabalhar com meu irmão, está vendo aqueles dois barcos ali? (Aponta para a baia da praia onde estão alguns barcos) trabalho neles também, são do meu irmão. E nas horas vagas dou aula de capoeira na vila.
D. JAIRA (Repetindo) Tem um ferimento na sua cabeça, deixe ver.
MESTRE DADO: Machuquei-me no barco, bati a cabeça.
D. JAIRA: (Aproxima o rosto da cabeça do homem e fica excitadíssima com o cheiro da pele molhada). Está seco, se quiser posso lhe fazer um curativo lá em casa, quer?
MESTRE DADO: Vamos fazer o seguinte, molhar com água salgada também é bom, vamos tomar um banho. (Foi falando e tirando a calça, não vestia cueca, deixando a D. Jaira sem fala com a beleza do corpo do pescador capoeirista e sua bem dotada natureza, ela o seguiu em silêncio, fumou rapidinho o baseado, o tempo parecia voar, desejava ardentemente uns cinco lexotans para entender aquilo tudo, estava de bobeira com aquele presente, só podia ser coisa de Iansã, foi entrando na água ainda de saia e blusa, o mestre Dado foi quem chegou junto dela, pegou delicadamente no queixo de D. Jaira e colou os seus carnudos lábios na sua boca num prolongado beijo, ela não sabia mais o que sentia,um calor inundou todo o seu corpo, suava em bicas, o corpo todo tremia, será que, seria talvez por causa de tantas substâncias químicas na cabeça ou apenas tesão mesmo, ele ajudou a tirar a sua roupa, e ela deixou-se levar pelo desejo.

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