sexta-feira, 13 de abril de 2012


De Junior Dalberto
CAPÍTULO 03
O Rio De Janeiro estava lindo. Um sol maravilhoso dourava a cidade. Maria Rita olhava pela janela do taxi enquanto o motorista fazia o retorno no aterro do Flamengo para chegar ao apartamento da família de João Paulo. Ao longe se via o majestoso morro de pedra do Pão de Açúcar.
No céu azul algumas poucas nuvens passavam ao alto. Algumas horas de vôo e o mundo era outro. Havia deixado a bucólica vila de Ponta Negra em Natal há apenas quatro horas e já se sentia um pouco sufocada pela pressão da cidade grande.
O trânsito do Rio de Janeiro é sempre o que mais lhe incomoda quando vem a cidade maravilhosa. Ao seu lado, João Paulo estava pensativo em como sua família iria receber sua amiga. 
JOÃO PAULO: E então, conseguiu falar com sua mãe?
MARIA RITA: Há cinco dias só consigo falar com ela pelo telefone. Imagine, encontrou um novo amor! Java me contou que é um capoeirista “do bem”. Ela nem dorme mais em casa.
JOÃO PAULO: E com quem você deixou o menino?
MARIA RITA: Com a madrinha dele, nossa vizinha Luzinete. Eles se adoram. Ela é super legal. Praticamente o Java mudou “de mala e cuia” para a casa dela.

JOÃO PAULO: Chegamos. (Desce do taxi e abre a porta para Maria Rita que estava fascinada com a fachada branca do elegante edifício de 20 andares na praia do Flamengo).
Um prédio antigo, estilo neoclássico com varandas repletas de plantas exóticas ornamentais que deixam a residência com um ar tropical chique. O edifício é composto de 10 apartamentos duplex de 400 metros cada.
Na cobertura reside o senhor Manoel Filipe Souza De La Tour e a senhora Constance Eugenia Bragança de La Tour, pais de João Paulo Souza Bragança de La Tour.
É assim que sua genitora faz questão de lhe chamar, para desespero do mesmo e constrangimento do pai. João Paulo paga a corrida e se dirige à portaria sendo recebido pelo porteiro.
JOÃO PAULO: Olá Vitor! Tudo bom? Essa é minha namorada Maria Rita.  (Apresentando-os). Esse é Vitor, nosso porteiro.
VITOR: Muito prazer senhorita. E o senhor, seu João, como vai lá pelo norte?
MARIA RITA: É um prazer seu Vitor. Desculpe, mas Natal é no nordeste e o João gosta de brincar, sou apenas uma amiga dele.
VITOR: Tudo bem moça. Eu sou lá daquelas bandas também, de Jucurutu, conhece?
MARIA RITA: Não tive o prazer de conhecer essa cidade ainda. Na verdade sou de Pernambuco, mas vivo em Natal e não a troco por lugar nenhum.
JOÃO PAULO: Foi um prazer Vitor! Precisamos subir, Dona Constance Eugenia deve está ansiosa pra nos ver. (Entram no elevador)
MARIA RITA: (Dentro do elevador) João! Algo me diz que sua mãe vai me aborrecer.
JOÃO PAULO: Não entre na viagem dela, é tudo pompa. Só sorria e concorde com a cabeça. Divirta-se!
Maria Rita fica atônita com o luxo escandaloso da moradia dos pais do João Paulo. Um mordomo os aguarda com a enorme porta de entrada aberta, já mostrando um perfil do luxo interior: um apartamento com o piso de mármore carrara perfeito e uniforme; belíssimos moveis franceses que pareciam saídos do palácio de Versalhes; à direita reinava, absoluto, colocado em uma parede branca com uma iluminação apropriada, um legitimo Van Gogh (uma pintura de um vaso com flores amarelas sobre uma mesinha de madeira rústica com um fundo azul esmaecido); na parede diante dele encontrava-se uma imperiosa gravura da fase cubista de Picasso, exposta em uma parede azul turquesa; diversas luminárias de cristais decoravam os ambientes; um ovo fabergé, presente de um czar russo, repousava ao lado de uma estátua de uns vinte centímetros esculpida em pedra sabão do profeta Jonas de autoria do mestre aleijadinho, ambas sob um aparador italiano do século XV. Em todos os lados que os olhos de Maria Rita pousavam, viam-se obras de arte.
A residência parecia uma continuação de um audacioso museu. Um casal de braços dados e elegantemente vestidos encontrava-se ao lado da pintura do Van Gogh apreciando-a. Ao sentir a presença dos recém-chegados, a senhora voltou-se com um gesto estudado e falou:
CONSTANCE EUGENIA: João Paulo Souza de Bragança de La Tour, bem vindo ao lar. (Estendeu os braços para receber o filho. O senhor permaneceu parado ao lado, porém com um sorriso nos lábios). Quem é a bela garota? Perguntou, ainda, a madura senhora.
JOÃO PAULO: Mamãe, essa é a Maria Rita.
CONSTANCE EUGENIA: Constance Eugenia Bragança de La Tour, mas pode me chamar de Constance Eugenia. Esse senhor (Com um gesto para que o mesmo se aproximasse) é o ministro Dr. Manoel Filipe de Souza de La Tour, pai do João Paulo, mas pode chamá-lo apenas de Ministro.
MARIA RITA: (Aturdida, faz uma reverência igual a que via sempre nos filmes imperiais). Sinto-me honrada.
JOÃO PAULO: (Vendo que a sua amiga estava constrangida, tentou contornar a situação). Mamãe, estou morrendo de fome.
MINISTRO: Esperávamos apenas que vocês chegassem para darmos início ao serviço de almoço.
CONSTANCE EUGENIA: (Dirigindo ao mordomo, que se encontrava ao lado da porta esperando alguma ordem). Alberto mande servir o almoço! Querida, é Maria Rita de que mesmo o seu nome? (Foram interrompidas pelo som da campanhia do telefone. O mordomo apressou-se em atender):
MORDOMO ALBERTO: Residência Bragança de La Tour boa tarde! Deseja falar com quem? (Silenciosos segundos) Um momento! (Aponta o telefone para Maria Rita) Acho que é para a senhorita, creio que é sua mãe.
MARIA RITA: (Assustada) Pra mim!? Mas nem eu sei o número daqui. Deixa ver! Alô! Mãe, como você conseguiu esse número?
CONSTANCE EUGENIA: (Para si mesma) Que estranho!
MINISTRO: No mínimo deselegante.
JOÃO PAULO: Papai! Mamãe! Calma gente! Fui eu quem passou o número daqui para o irmão dela... deve ser algum problema.
MARIA RITA: (Nervosa) Tudo bem Mãe! Desculpa! Não se preocupe que eu levo, levo sim, e ligo assim que chegar á Buenos Aires. Beijo grande no Java. Beijo!
JOÃO PAULO: E então!? Está tudo bem?
MARIA RITA: Ela falou que foi você quem deu o número e que só ligou porque o meu celular está desligado. Pediu para levarmos alfajos, pode?
MORDOMO ALBERTO: Posso servir o almoço?
MINISTRO: Evidente.

Após um suntuoso almoço, o jovem casal resolveu fazer a digestão com uma caminhada no calçadão de Copacabana. Os país de João Paulo ofereceram um carro com chofer, mas eles preferiram ir de taxi. Dessa vez, Maria Rita aceitou caminhar de mãos dadas com João Paulo. Estão aturdidos com a notícia da tragédia ocorrida naquela manhã no bairro do Realengo. Os pais de João Paulo comentaram rapidamente o fato durante a refeição, colocando a culpa nos americanos. Eles se sentiam europeus demais.
Os dois caminham em silencio, absortos em seus pensamentos enquanto se aproximam do famoso hotel Copacabana Palace. De repente, são interrompidos por uma estranha mulher, bem mais alta que João Paulo. De início tentam afastarem-se, mas ela persiste na frente de ambos impedindo-os de seguirem adiante. 
A ESTRANHA MULHER: Não tenham medo, me chamo Juana de Píton, sou a cigana sibilante de Copacabana. 
A cigana usava uma maquiagem egípcia. Seus olhos estavam teatralmente maquiados imitando o famoso olhar do deus Horus, inclusive com um terceiro olho negro aplicado na testa. A esquisita mulher possuía um rosto anguloso, masculino, com longos e cacheados cabelos negros.
Vestia várias saias sobrepostas entre negras e amarelas com longos bordados, nas quais brilhavam arabescos dourados e pássaros negros; Usava um batom vermelho, várias pulseiras douradas, anéis com enormes bijuterias de pedras vermelhas; grandes argolas douradas completavam o personagem. O seu olhar intimidante inquietou Maria Rita que parecia hipnotizada. João Paulo também estava como que aturdido pela brusca situação.
JUANA DE PITON: Não tenham medo! Estou lhes esperando há bastante tempo e vejo que a áurea de vocês está ficando violácea. Isso significa que uma viagem urgente se aproxima. É uma viagem aérea. Vocês sobrevoarão rios e florestas e lá encontrarão algo que nunca imaginam... Querem saber? (Fala a frase final, deixando uma enorme língua bipartida feito a de uma serpente, sibilar, fora da boca. Depois dá um sorriso observando o efeito da bizarra ação).
MARIA RITA: (Acordando do transe) Que porra é isso? Que língua é essa, mulher? E que história é essa de algo inimaginável?
JOÃO PAULO: (Tomando a frente) É isso mesmo... Como é que você sabe da nossa viagem? E quem é você? Parece um traveco!
JUANA DE PITON: Que importa quem eu sou? Travesti mulher, mutante ou animal? Que importa? (Enquanto fala, faz coreografias com a bizarra língua bipartida, próximo ao rosto dos dois) Eu sei os seus mais sórdidos segredos. Quer saber o que lhe espera? É só cem reais. Para você que é “bacana” isso  não é nada. (Dar uma gargalhada e faz um giro sob o próprio corpo).
MARIA RITA: Vamos embora João! É tudo besteira, essas ciganas são todas assim, mentem num dia o que o macaco não pula em um ano. 
JUANA DE PITON: Eu sei onde está o negro que quase lhe comeu. Mais cem reais e lhe conto tudo. 
JOÃO PAULO: (Assustado) Como? Quem é você, uma entidade? 
MARIA RITA: (Também assustada) Calma João! Agora senti firmeza nela. Pague os cem e vejamos o que tem a dizer.
JUANA DE PITON: Duzentos, querida!. (Recebe o dinheiro e vai falando), O destino vai unir vocês de uma forma terrivelmente fantástica. Uma grande e misteriosa aventura os aguarda. Não seja covarde rapaz, no final ela será o seu prêmio. (Maria Rita dá um sorriso) Guarde o sorriso irônico. Garanto que você é quem vai ser responsável por essa situação. (Com uma sonora gargalhada a estranha cigana interrompe a conversa e depois volta a falar): O homem que tentou lhe pegar está bem próximo de vocês, mas ele vai pagar um preço muito alto por tudo isso. Lembre-se: O espelho sempre vai refletir algo, não existe imagem sem reflexo. É apenas isso pelos duzentos. E também não quero mais ver a cara de vocês. Vão embora. Vocês são muito “do bem” pro meu gosto e não me acompanhem que não sou novela. Beijo nos rabos. (Sai dando gargalhadas).
JOÃO PAULO: Que sinistro...!
MARIA RITA: Acho que era um travesti.
JOÃO PAULO: A língua bipartida é macabra. Vamos voltar para o Flamengo.
MARIA RITA: Concordo. Quero chegar a casa e transar com você.
JOÃO PAULO: Eba, com mucho gusto, vamos chica. (Beijam-se, em seguida saem caminhando em direção a um ponto de taxi).
Continua...

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