O Tango no Espelho

                                  

                                                                                                                         




                                                                        De Junior Dalberto.

                                                                          INÍCIO



CAPITULO 01

A lua gigante daquela semana de março de 2011 realmente mexeu com a cabeça das pessoas, dourada e gigantesca parecendo um balão inflado e solto sobre o azul celeste, lançava estranhos raios em cores alaranjadas, meio divididas, deixando que longos e verticais tons azuis celestes as separassem, iniciando-se na linha da marca do oceano até a sua plenitude aérea. A brisa que chegava do além mar não refrescava aquele quente inicio de noite. O satélite seguia seu curso ao lado das dunas famosas do morro do careca, da praia de Ponta Negra em Natal com sua mágica e instigante beleza. Atraídos pela novidade que havia sido divulgada toda a semana pela internet e pela mídia televisiva que deixou todo o país curioso em ver “in loco” um fato que só ocorria de trinta em trinta anos. João Paulo e Maria Rita caminhavam lado a lado na praia de Ponta Negra, devia ser dezoito horas aproximadamente, estava uma noite muito quente, o barulho das marolas das ondas do mar morrendo nas areias da praia sobre os pés descalços dos dois, além de um distante e baixo alarido, quebravam aquele excitante momento, o casal seguia calado a bastante tempo em direção ao morro do careca, desde o começo do calçadão da praia, onde estacionaram a moto da Maria Rita. A praia estava cheia de gente aboletada na amurada que separava o calçadão das areias e das ondas. O jovem casal queria curtir a lua aonde o silêncio fosse o tema do ambiente, Maria Rita quebrou esse silêncio uns cem metros antes de chegarem ao pé do morro:
MARIA RITA: Está quente demais. Acho que vou dar um mergulho. (Foi tirando a blusa, mostrando que como sempre, nada havia por baixo)
JOÃO PAULO: Eu também vou, ué! Vai tomar banho pelada?
MARIA RITA: Claro (Tirando a calcinha. Já havia jogado nas areias a blusa juntamente com o short jeans surrado ao lado das sandálias de dedo). Com uma lua dessas vou querer seus raios acariciando até a minha alma.
JOÃO PAULO: Sei não, se você não existisse, eu lhe inventava. (Vai tirando a roupa e empilhando sobre a da Maria Rita)
MARIA RITA: Vem logo João, a água está ótima.
JOÃO PAULO: To indo. (E corre prá água, mergulhando). A brilhante lua do alto parecia cada vez mais poderosa e intimidante. Essa energia era percebida por alguns cães vagabundos que deviam estar farejando pelas areias, todavia encontravam-se paralisados, olhando para ela como que hipnotizados com as orelhas pontudas erguidas, talvez em respeito à magnífica visão. Na água nadavam sem roupas o casal de amigos em direção a um barco de pesca que se encontrava ancorado entre uma dezena deles na enseada da praia de Ponta Negra. Quem primeiro subiu foi a Maria Rita que em seguida ajudou o João Paulo a subir no barco, que estava recém pintado de azul e vermelho ainda cheirando a tinta e estava escrito em amarela laranja o nome de Java. Maria Rita falou rindo: “Até aqui me persegue esse menino. Quem? Perguntou João Paulo, assustando-se”.
MARIA RITA: (Apontando pro nome do barco) O Java meu irmão.
JOÃO PAULO: ah, engraçado, ele está sempre por perto.
MARIA RITA: Até mais do que deve, é um saco, estou com frio.
JOÃO PAULO: (Sentado sobre uma lona que cobre o barco) Vem prá cá que eu te esquento.
MARIA RITA: E você, acha que serve pra quê? Além de um belo objeto sexual.
JOÃO PAULO (Fazendo um biquinho feito criança com birra): Só pra isso é?
MARIA RITA: Isso é o que você faz de melhor. (Aproxima-se e coloca-se entre as pernas do amigo). Estou sentindo um cheiro de maconha no ar.
JOÃO PAULO: Deve ser algum pescador nesses barcos ao lado, fumando um e curtindo essa lua.
MARIA RITA: Até que cairia bem. (Falava e sentava-se sobre João Paulo)
JOÃO PAULO: Para de falar bobagem e presta atenção ao serviço. (Ambos riem e beijam-se demoradamente, acariciam-se, como já estão se conhecendo há mais de cinco meses pouco segredo no erotismo existe entre os dois, desde a primeira vez que ficaram foram até aonde o desejo lhes permitia, explorando e deixando se explorar cada vez mais pela libido sempre aflorada entre o casal. Maria Rita é mais afoita, direciona João Paulo para satisfazer seus ímpetos sexuais, o rapaz seduzido e inebriado pelo prazer, deixa-se conduzir, a lua agora se encontra bem sobre as suas cabeças, dourando o frenesi dos amantes, o barco chacoalha sobre as ondas, a corda da âncora que prende o pequeno barco, geme em contato com a madeira deixando o ambiente ainda mais excitante. Em poucos minutos o casal chega ao clímax, Maria Rita geme alto aproveitando o silêncio do lugar para deixar sua fantasia marcar presença. João Paulo ao contrário, permanece em silêncio após o prazer, apenas observando a distante lua para em seguida assustar-se com a imagem a apenas dois metros de um homem bastante alto, devia ter mais de um metro e oitenta de altura, negro feito uma noite sem lua, totalmente nu e acariciando o seu órgão sexual, da pele negra gotas de água brilhavam com o reflexo da luz da lua, no rosto ostentava um sorriso luxurioso, só deu tempo de João empurrar com todas as forças que possuía a amiga Maria Rita com violência sobre a curta amurada do barco em direção ao mar, o barulho do corpo ao mar foi encoberto pelo pulo do forte negro sobre o corpo do pobre rapaz). Então você me quer sozinho é? – Gritou o gigante.
JOÃO PAULO: (Sentindo no rosto o bafo de maconha e cachaça do homem, misturado com suor e água do mar, viu-se com o rosto voltado para o chão de madeira do barco e preso por um golpe conhecido como mata leão, asfixiando-o) Por favor, está me machucando.
PESCADOR: Fique parado senão mato você e lhe pego de qualquer jeito depois, tá ligado? (O negro era muito forte, João estava preso no golpe e sequer conseguia respirar, estava tentando achar uma maneira de escapar daquela eminente curra, mas seu pensamento era só em Maria Rita, esperava que ela conseguisse chegar a salvo na margem) Vamos lá rapaz, colabora depois lhe solto.
JOÃO PAULO: Seu filho de uma puta (O pescador tentava penetrar o rapaz que conseguia escapar das investidas, contorcendo o corpo) quem me garante que vai me deixar vivo.
PESCADOR: Eu (A resposta foi encoberta por um barulho de uma pancada seca, sobre a sua cabeça, desfalecendo-o e libertando o pescoço de João Paulo que aproveitando a situação, empurrou-o para o lado. Já se preparando para saltar do barco quando enxergou a figura da Maria Rita, nua com um remo de madeira na mão). Minha heroína! Gritou JOÃO PAULO. – Rápido, vamos embora, acho que o matei. (João Paulo chega até o individuo desacordado e comprova que ele ainda respira) Está vivo, vamos antes que ele acorde. (Pulam no mar).
MARIA RITA: (Nadando lado a lado e rindo) Achei que estava gostando do negão, demorei até um pouco em dar a bordoada, estava na dúvida.
JOÃO PAULO: Você está besta, pára com isso. Vamos mais logo, estou preocupado com nossas roupas.
MARIA RITA: É mesmo, esqueci de tudo, tomara que esteja tudo lá.
JOÃO PAULO: Vamos ver quem chega primeiro (Dar um selinho em Maria Rita e segue nadando em direção a praia)
MARIA RITA: E eu que pensava que teria um segundo tempo no barco, fazer o quê. (Nada em direção ao rapaz). Na margem, João chega e percebe que nada foi mexido, respira aliviado, estava aflito porque lembrou da última vez que Maria Rita o convenceu a essa proeza, haviam ficado no prejuízo, estavam em Genipabu, sobre as dunas, coincidentemente na última lua cheia do mês passado, fizeram amor dentro da lagoa. Quando retornaram para o lugar aonde deixaram os seus pertences não encontraram mais nada, levaram tudo, foi um constrangimento geral, saíram caminhando pelados até a primeira casa que encontraram empurrando uma moto, o morador chamou a policia, foram levados até a delegacia enrolados em um lençol fedorento a urina que a dona da casa os cedeu, não houve constrangimento por parte da Maria Rita, ele ficou todo o tempo em silêncio procurando um buraco pra se esconder de tanta vergonha. Os policiais até foram bem legais apesar de não tirarem os olhos do corpo de Maria Rita que coberta apenas por outro lençol roto, fino e bem transparente deixava as suas curvas bem salientes. O pior foi ter que providenciar todos os documentos surrupiados, e mais chato ainda foi o comportamento de Maria Rita que ria de tudo, parecia sob efeito de alguma droga, foi muito desagradável tudo aquilo, enquanto pensava nisso tudo João Paulo observou a amiga sair da água, nossa como era bonita e gostosa, por esse motivo valia muito a pena correr esse risco.
MARIA RITA: E então? Nossa! Agora estou com frio e também com fome. (Vestindo-se)
JOÃO PAULO: (Vestindo-se) Vamos comer uma pizza?
MARIA RITA: Ótima idéia. Vamos sim. (Caminha agora em direção contrária ao morro do careca).
JOÃO PAULO: Tenho algo pra gente.
MARIA RITA: Ih! Quando você vem com esse papo idiota da gente, sinto que vou me aborrecer.
JOÃO PAULO: Você é muito segura de si, chega às vezes a me irritar.
MARIA RITA: desculpa João, mas é que você vem sempre com a mesma tecla, aposto que vai me pedir novamente em namoro não é?
JOÃO PAULO: E porque não? Eu gosto de você, você gosta de ficar comigo, arriscou-se por mim, pode dar certo.
MARIA RITA: Não quero, ainda não estou a fim de ficar com ninguém sério, eu quero só me divertir e com relação ao barco, eu faria isso por qualquer pessoa.
JOÃO PAULO: Tudo bem, mas mesmo assim valeu, já estava sentindo a coisa entrando.
MARIA RITA: Juro que eu achei que você estava gostando.
JOÃO PAULO: Não diga isso nem brincando, o negócio é duro.
MARIA RITA: E eu não sei, mas tudo é uma questão de momento, talvez não fosse o seu momento.
JOÃO PAULO: Esse momento pra mim não vai chegar nunca, vamos parar com esse assunto. Vamos falar da gente.
MARIA RITA: Eu fiquei preocupada, acho que bati com muita força. Acho que estava nos vendo desde que chegamos ao barco. (Pensativa)
JOÃO PAULO: Devia estar em algum barco vizinho, mas não se preocupe, ele ficou bem, pense em nós, vamos ter mais momento só nossos. (Tentou pegar na mão da amiga)
MARIA RITA: Namorando? (Ela não permitia que ele segurasse na sua mão)
JOÃO PAULO: Esse é o meu desejo. (Já estão bem perto do lugar aonde deixaram a moto)
MARIA RITA: Não e não, isso já está enchendo meu saco, quando eu tiver a fim de lhe pedir em namoro eu falo está bem? (Irritadíssima)
JOÃO PAULO: Isso tudo é prá poder ficar com outros caras não é?
MARIA RITA: Mais ou menos, o que eu quero é não perder o poder de decisão, de o quê ou com quem vou ficar, quero continuar me sentindo livre, adoro essa sensação de ser dona do meu nariz, não quero ninguém no meu caminho, entendeu? Nada contra você, acho você um tesão, gostoso, parceiro, boa cama, bom papo, bom gosto, excelente companhia, mas, é só. Não quero ninguém prá sempre, pelo menos por enquanto. Chegamos, foi uma boa caminhada.
JOÃO PAULO: Tudo bem, um dia lhe venço no cansaço. (Pegando o capacete que a Maria lhe passou) Obrigado.
MARIA RITA: (Rindo e subindo na moto)- Na de sempre?
JOÃO PAULO: Of course. (Saem rindo)
...NA PIZZARIA...
MARIA RITA: (Com a boca cheia de pizza, olha prá João como se perguntasse algo).
JOÃO PAULO: Está curiosa, não é? (Maria Rita concorda com um gesto de cabeça). Tudo bem olha aqui (Mostra duas passagens aéreas e vouchers) Vamos dar um passeio?
CAPÍTULO 02

MARIA RITA: (Não resistindo e falando no meio da mastigação). Prá onde?
JOÃO PAULO: Tenha modos, não fale de boca cheia. Quarta próxima embarcamos logo cedo pro Rio, ficamos até o dia seguinte na casa dos meus pais prá você os conhecer e na quinta à noite pegamos outro vôo prá Buenos Aires, ficamos até o domingo à tarde, então voltamos num vôo direto para Natal, que tal?

MARIA RITA: Gostei muito da viagem, não vou ter problemas no trabalho porque tenho dez dias de férias prá gozar, só não gosto (bebe um pouco do refrigerante) é de ter que ficar na casa dos seus pais, algo me diz que vou me aborrecer.
JOÃO PAULO: Bobagem, meus pais são só um pouco diferentes, pouco tradicionais, mas dá pra agüentar. Vamos pedir a conta, ainda quero passar no supermercado e já são 22h30min. Vai dormir lá em casa?
MARIA RITA: Vou sim, amanhã é sábado, quero dormir até mais tarde, vou deixar você no supermercado, passar em casa, pegar algo prá vestir e encontro você em sua casa.
E seguiram o curso combinado.
João Paulo morava num excelente apartamento doado pelos pais de presente de aniversário, localizado bem próximo a um grande supermercado da Avenida Roberto Freire, já Maria Rita morava numa casa no final da Rua Manoel Congo na vila de Ponta Negra com sua mãe, uma riponga culta, esquizofrênica, paranóica, freqüentadora de clinicas psiquiátricas e viciada em drogas leves e antidepressivos, e ainda seu irmão Java, um menino de 07 anos apaixonado pela irmã que substitui a mãe sempre que ela surta.
MARIA RITA: (Ao entrar em casa, encontra a mãe e o irmão vendo TV) Boa noite.
D. JAIRA: Boa noite querida, bom que chegou, tenho que sair já, vou visitar a minha amiga Suelen, ela chegou ontem da clinica.
JAVA: Ela pirou de novo?
MARIA RITA: Mãe, vou precisar sair novamente e não vou dormir em casa.
JAVA: Grande novidade não se preocupe comigo que eu me viro sozinho.
D. JAIRA: Eu sei meu curumim, (acariciando a cabeça do menino) você já é um hominho, prometo não demorar, vou num pé e volto noutro.
JAVA: É ruim heim, com essa lua cheia de hoje sua cabeça deve tá massa.
MARIA RITA: Que é isso menino? Mãe, que houve com a Suelen?
D. JAIRA: A Suelen estava super deprimida, não conseguia mais nenhum trabalho de atriz, rodou meio mundo em Natal e vizinhança, desgostosa decidiu freqüentar aquela igreja evangélica lá no Pium aconselhada pela sua irmã Gilda, a Igreja Jesus é a semente, você sabe qual é, próxima a penitenciária de Alcaçuz.
MARIA RITA: Mãe, (Impaciente) conta logo a história, tenho que voltar; o João Paulo está me esperando.
JAVA: Acho-o meio boiola. (Falando prá si)
D. JAIRA: Sugar baby, não existe meio boiola, (irritada) todo gay é inteiro, nunca vi só uma bunda andando pela rua, tem pé, mão, corpo inteiro, ok? Respeite a diversidade.
MARIA RITA: MÃEEE! Termina a história.
D. JAIRA: Calma C....... (Palavrão), quer me deixar doida?, Tudo bem, ela começou a freqüentar a igreja aos domingos e resolveu dramatizar algumas cenas bíblicas- meninos! Foi um sucesso. Começou com o nascimento de Jesus, claro que ela fazia a Maria e sempre colocava as cenas maiores para ela, adora aparecer. Viveu domingo após domingo, diversas personagens bíblicas. Dizem que a Salomé foi um sucesso, a igrejinha do Pium agora vive superlotada, vem gente até de Natal prá ver suas interpretações religiosas, o pastor lhe dá a maior força. Porém, há uns quinze dias atrás a minha amiga Suelen resolveu dramatizar no culto um dos milagres de Cristo: ¨A cura de um endemoniado¨ e ela, claro, que seria o próprio, falou-me: Uma personagem forte, na qual ela exploraria o máximo do seu talento. (caminha até a geladeira prá tomar água, deixando propositalmente o suspense no ar).
JAVA: P..... Mãe termine esse c...... De história, já to nervoso.
MARIA RITA: Calma Java é isso que ela quer.
D. JAIRA: (Voltando meio aturdida) Vocês viram se tomei meu Lexotan?
JAVA: MÃEEEE! (Nervoso)
MARIA RITA: Toma de novo.
D. JAIRA: Vou tomar dois, assim me acalmo, (Pega dois comprimidos que estão sobre a geladeira, engole-os e bebe água). Bem, continuando, vocês sabem que a Suelen já viveu em Berlin, estudando teatro, pois então, no dia do culto, o combinado era que ela seria a possuída por uma entidade demoníaca, e o pastor iria lhe tirar o diabo do corpo. Entretanto, após começar o espetáculo, como diz Suelen, ela gostou do personagem, por mais que o pastor lhe balançasse de um lado pro outro, lhe puxassem os cabelos, gritassem nos seus ouvidos, ela não abandonava a possessão. E prá piorar mais ainda a situação ela teve a infeliz idéia de xingar toda a igreja em alemão, já imaginou a cena? Dizem que foi coisa prá mais de vinte minutos, toda a igreja orando de joelhos, assustados, o pastor já acreditando que aquilo era obra do inimigo e a louca da Suelen se divertindo horrores, xingando, esbravejando, parecia os discursos anti semitas do Hitler, para infortúnio da maluca, surge uma mulher de aproximadamente quarenta anos, que estava sentada lá nos fundos da igreja, e que fora ex-dançarina, ex-drogada e ex-prostituta. Havia trabalhado com o corpo em cinco países europeus, possuía até carteira assinada de prostituta pela prefeitura de Paris. Viveu os últimos cinco anos nos guetos alemães, de onde contraiu o vírus da AIDS. Agora, freqüentava a mesma igreja da Suelen. A ex-várias coisas diante da confusão armada dentro da igreja, caminhou com elegância ate a pseudo-possuída, chegou bem perto do ouvido da atriz e falou em fluente alemão: Eu sei que estás tirando onda com os irmãos, pára com isso agora ou eu abro o boca, e você sai daqui na porrada, tá ligada? Suelen surpresa, deixou o corpo pender pra o chão como num súbito desmaio, em seguida abre bem os olhos e olha para todos os lados, dramática- pergunta docemente ao público: O aconteceu? Dizem que os gritos alegres de aleluia, por verem a irmã atriz liberta do inimigo, ressoam até hoje em Tabatinga.
MARIA RITA: Sim e daí? Isso não é motivo prá ela ser internada.
D. JAIRA: No final do culto a ex – C......monte de coisas, foi até o pastor e relatou toda a história do xingamento em alemão, o pastor chamou a cúpula da igreja juntamente com a minha amiga e colocou-a de joelhos no centro da igreja, passaram toda a noite orando por ela, diziam que ela foi realmente possuída pelo inimigo para fazer aquela perturbação, foi tanta lavagem na mente da minha amiga, que a pobre Suelen surtou, saiu da igreja dentro de uma ambulância da SAMU direto pro hospital dos doidos. Teve alta ontem.
MARIA RITA: Só assim ela abandona essa idéia maluca.
D. JAIRA: Quem disse? Ela já me ligou hoje, falando que já aprontou a próxima resenha, vai viver no próximo domingo a Maria Madalena, fez modificação na história da ex-pecadora. Quem grita, atire a primeira pedra, será ela própria e não o Cristo, já está até produzindo pedras cinematográficas que serão entregues no inicio do culto, caso alguém se emocione com sua interpretação e resolva lhe atirar pedras. Fazer o quê com minha companheira de clínica? No mínino prestigiar! No domingo irei ver o espetáculo e aplaudir. Bem, chega desse assunto, (já na porta e saindo) Fui.
JAVA: Essa nossa mãe!
MARIA RITA: Você tem meu número de celular, qualquer coisa me liga, ok? (Beija o menino na testa)
JAVA: Tchau. (Diante da TV, sem olhar prá irmã).
Após caminhar durante vinte e cinco minutos pela Rua Manoel Congo, D. Jaira passou pela praça do cruzeiro e observou que a casa da amiga Suelen estava fechada com as luzes apagadas, resolveu seguir até a praia. Precisava de um bom banho de mar, com os logos e soltos cabelos crespos, D Jaira estava com 44 anos e aparentava bem menos apesar dos problemas depressivos, era magra, com 1,70 de altura e bonita.Vestia uma curtíssima blusa de algodão fina e florida em tons azuis que deixava o umbigo de fora, trajava também uma pequena saia jeans, customizada de uma antiga desbotada calça Lee. Enquanto caminhava em direção a praia, pensava em como eram legais os seus filhos, nunca questionaram a falta do nome do pai na certidão de nascimento, se bem, que também ela não sabia, coincidentemente os dois foram gerados nos festivais rock in rio, a Maria Rita no primeiro do Rio de Janeiro, durante o show do Ozzy Osbourne, numa das barracas de Deus sabe quem, porque ela não se lembra de nada além de muita droga, sexo, musica e bebidas. Tinha apenas dezesseis anos.
O Java é fruto do Rock in Rio em Lisboa de 2004, dele consegue lembrar um pouco da fisionomia do rapaz, acha que era um marroquino, moreno, lindo, gostoso, de olhos negros sedutores que o pequeno Java herdou. Lembra ainda que fumaram bastante haxixe, terminando fazendo amor numa tenda cigana, foi também muito legal, mas como o pai de Maria Rita, esse também sumiu com os acordes das guitarras dos metaleiros. A brisa marinha trouxe o cheiro do mar até D. Jaira, o som das marolas das ondas nas areias da praia, já chegavam aos seus ouvidos, mais uns vinte metros e estaria mirando o mar de Ponta Negra, a lua já estava longe, deve ser próximo de meia noite (Pensou). Terminou de descer a ladeira, dobrou à direita em direção ao morro do careca, sobressaltou-se com a visão de um homem sentado sem camisa sobre o banco de uma jangada nas areias da praia em frente da pousada da Pipa. Ao se aproximar curiosa, viu que era um negro que exibia escancaradamente um peitoral perfeito, de onde parecia querer saltar pela forte respiração, os intumescidos bicos dos mamilos, vestia apenas uma calça branca no estilo dos capoeiristas da vila, fumava e olhava pro mar com um olhar perdido na imensidão, excitada, a D. Jaira dirigiu-se até a jangada onde o homem estava, observou que o mesmo não devia ter mais de trinta anos, alto e com um físico magnífico, o rapaz ao vê-la se aproximar, deu um largo sorriso mostrando a brancura dos dentes perfeitos, era um belo exemplar de macho. (Pensava com desejo D. Jaira).
D. JAIRA: Tudo bem? Tem outro cigarro?
MESTRE DADO: Tenho desse, e de outro bem melhor.
D. JAIRA: Oba, já vi que vamos nos entender, (Estendendo a mão, e olhando prá distante lua) prazer Eva Luna.
MESTRE DADO: Mestre Dado. (Apertou a mão segurando um pouco, para em seguida passar um baseado pra mulher) Acendo?
D. JAIRA: Claro, você é novo por aqui? Hei, sua cabeça está sangrando?
MESTRE DADO: Estou aqui há dois meses, vim de Santos, trabalhar com meu irmão, está vendo aqueles dois barcos ali? (Aponta para a baia da praia onde estão alguns barcos) trabalho neles também, são do meu irmão. E nas horas vagas dou aula de capoeira na vila.
D. JAIRA (Repetindo) Tem um ferimento na sua cabeça, deixe ver.
MESTRE DADO: Machuquei-me no barco, bati a cabeça.
D. JAIRA: (Aproxima o rosto da cabeça do homem e fica excitadíssima com o cheiro da pele molhada). Está seco, se quiser posso lhe fazer um curativo lá em casa, quer?
MESTRE DADO: Vamos fazer o seguinte, molhar com água salgada também é bom, vamos tomar um banho. (Foi falando e tirando a calça, não vestia cueca, deixando a D. Jaira sem fala com a beleza do corpo do pescador capoeirista e sua bem dotada natureza, ela o seguiu em silêncio, fumou rapidinho o baseado, o tempo parecia voar, desejava ardentemente uns cinco lexotans para entender aquilo tudo, estava de bobeira com aquele presente, só podia ser coisa de Iansã, foi entrando na água ainda de saia e blusa, o mestre Dado foi quem chegou junto dela, pegou delicadamente no queixo de D. Jaira e colou os seus carnudos lábios na sua boca num prolongado beijo, ela não sabia mais o que sentia,um calor inundou todo o seu corpo, suava em bicas, o corpo todo tremia, será que, seria talvez por causa de tantas substâncias químicas na cabeça ou apenas tesão mesmo, ele ajudou a tirar a sua roupa, e ela deixou-se levar pelo desejo.




CAPÍTULO 03



O Rio De Janeiro estava lindo. Um sol maravilhoso dourava a cidade. Maria Rita olhava pela janela do taxi enquanto o motorista fazia o retorno no aterro do Flamengo para chegar ao apartamento da família de João Paulo. Ao longe se via o majestoso morro de pedra do Pão de Açúcar. No céu azul algumas poucas nuvens passavam ao alto. Algumas horas de vôo e o mundo era outro. Havia deixado a bucólica vila de Ponta Negra em Natal há apenas quatro horas e já se sentia um pouco sufocada pela pressão da cidade grande. O trânsito do Rio de Janeiro é sempre o que mais lhe incomoda quando vem a cidade maravilhosa. Ao seu lado, João Paulo estava pensativo em como sua família iria receber sua amiga.
JOÃO PAULO: E então, conseguiu falar com sua mãe?
MARIA RITA: Há cinco dias só consigo falar com ela pelo telefone. Imagine, encontrou um novo amor! Java me contou que é um capoeirista “do bem”. Ela nem dorme mais em casa.
JOÃO PAULO: E com quem você deixou o menino?
MARIA RITA: Com a madrinha dele, nossa vizinha Luzinete. Eles se adoram. Ela é super legal. Praticamente o Java mudou “de mala e cuia” para a casa dela.
JOÃO PAULO: Chegamos. (Desce do taxi e abre a porta para Maria Rita que estava fascinada com a fachada branca do elegante edifício de 20 andares na praia do Flamengo).
Um prédio antigo, estilo neoclássico com varandas repletas de plantas exóticas ornamentais que deixam a residência com um ar tropical chique. O edifício é composto de 10 apartamentos duplex de 400 metros cada. Na cobertura reside o senhor Manoel Filipe Souza De La Tour e a senhora Constance Eugenia Bragança de La Tour, pais de João Paulo Souza Bragança de La Tour. É assim que sua genitora faz questão de lhe chamar, para desespero do mesmo e constrangimento do pai. João Paulo paga a corrida e se dirige à portaria sendo recebido pelo porteiro.
JOÃO PAULO: Olá Vitor! Tudo bom? Essa é minha namorada Maria Rita. (Apresentando-os). Esse é Vitor, nosso porteiro.
VITOR: Muito prazer senhorita. E o senhor, seu João, como vai lá pelo norte?
MARIA RITA: É um prazer seu Vitor. Desculpe, mas Natal é no nordeste e o João gosta de brincar, sou apenas uma amiga dele.
VITOR: Tudo bem moça. Eu sou lá daquelas bandas também, de Jucurutu, conhece?
MARIA RITA: Não tive o prazer de conhecer essa cidade ainda. Na verdade sou de Pernambuco, mas vivo em Natal e não a troco por lugar nenhum.
JOÃO PAULO: Foi um prazer Vitor! Precisamos subir, Dona Constance Eugenia deve está ansiosa pra nos ver. (Entram no elevador)
MARIA RITA: (Dentro do elevador) João! Algo me diz que sua mãe vai me aborrecer.
JOÃO PAULO: Não entre na viagem dela, é tudo pompa. Só sorria e concorde com a cabeça. Divirta-se!
Maria Rita fica atônita com o luxo escandaloso da moradia dos pais do João Paulo. Um mordomo os aguarda com a enorme porta de entrada aberta, já mostrando um perfil do luxo interior: um apartamento com o piso de mármore carrara perfeito e uniforme; belíssimos moveis franceses que pareciam saídos do palácio de Versalhes; à direita reinava, absoluto, colocado em uma parede branca com uma iluminação apropriada, um legitimo Van Gogh (uma pintura de um vaso com flores amarelas sobre uma mesinha de madeira rústica com um fundo azul esmaecido); na parede diante dele encontrava-se uma imperiosa gravura da fase cubista de Picasso, exposta em uma parede azul turquesa; diversas luminárias de cristais decoravam os ambientes; um ovo fabergé, presente de um czar russo, repousava ao lado de uma estátua de uns vinte centímetros esculpida em pedra sabão do profeta Jonas de autoria do mestre aleijadinho, ambas sob um aparador italiano do século XV. Em todos os lados que os olhos de Maria Rita pousavam, viam-se obras de arte. A residência parecia uma continuação de um audacioso museu. Um casal de braços dados e elegantemente vestidos encontrava-se ao lado da pintura do Van Gogh apreciando-a. Ao sentir a presença dos recém-chegados, a senhora voltou-se com um gesto estudado e falou:
CONSTANCE EUGENIA: João Paulo Souza de Bragança de La Tour, bem vindo ao lar. (Estendeu os braços para receber o filho. O senhor permaneceu parado ao lado, porém com um sorriso nos lábios). Quem é a bela garota? Perguntou, ainda, a madura senhora.
JOÃO PAULO: Mamãe, essa é a Maria Rita.
CONSTANCE EUGENIA: Constance Eugenia Bragança de La Tour, mas pode me chamar de Constance Eugenia. Esse senhor (Com um gesto para que o mesmo se aproximasse) é o ministro Dr. Manoel Filipe de Souza de La Tour, pai do João Paulo, mas pode chamá-lo apenas de Ministro.
MARIA RITA: (Aturdida, faz uma reverência igual a que via sempre nos filmes imperiais). Sinto-me honrada.
JOÃO PAULO: (Vendo que a sua amiga estava constrangida, tentou contornar a situação). Mamãe, estou morrendo de fome.
MINISTRO: Esperávamos apenas que vocês chegassem para darmos início ao serviço de almoço.
CONSTANCE EUGENIA: (Dirigindo ao mordomo, que se encontrava ao lado da porta esperando alguma ordem). Alberto mande servir o almoço! Querida, é Maria Rita de que mesmo o seu nome? (Foram interrompidas pelo som da campanhia do telefone. O mordomo apressou-se em atender):
MORDOMO ALBERTO: Residência Bragança de La Tour boa tarde! Deseja falar com quem? (Silenciosos segundos) Um momento! (Aponta o telefone para Maria Rita) Acho que é para a senhorita, creio que é sua mãe.
MARIA RITA: (Assustada) Pra mim!? Mas nem eu sei o número daqui. Deixa ver! Alô! Mãe, como você conseguiu esse número?
CONSTANCE EUGENIA: (Para si mesma) Que estranho!
MINISTRO: No mínimo deselegante.
JOÃO PAULO: Papai! Mamãe! Calma gente! Fui eu quem passou o número daqui para o irmão dela... deve ser algum problema.
MARIA RITA: (Nervosa) Tudo bem Mãe! Desculpa! Não se preocupe que eu levo, levo sim, e ligo assim que chegar á Buenos Aires. Beijo grande no Java. Beijo!
JOÃO PAULO: E então!? Está tudo bem?
MARIA RITA: Ela falou que foi você quem deu o número e que só ligou porque o meu celular está desligado. Pediu para levarmos alfajos, pode?
MORDOMO ALBERTO: Posso servir o almoço?
MINISTRO: Evidente.
Após um suntuoso almoço, o jovem casal resolveu fazer a digestão com uma caminhada no calçadão de Copacabana. Os país de João Paulo ofereceram um carro com chofer, mas eles preferiram ir de taxi. Dessa vez, Maria Rita aceitou caminhar de mãos dadas com João Paulo. Estão aturdidos com a notícia da tragédia ocorrida naquela manhã no bairro do Realengo. Os pais de João Paulo comentaram rapidamente o fato durante a refeição, colocando a culpa nos americanos. Eles se sentiam europeus demais. Os dois caminham em silencio, absortos em seus pensamentos enquanto se aproximam do famoso hotel Copacabana Palace. De repente, são interrompidos por uma estranha mulher, bem mais alta que João Paulo. De início tentam afastarem-se, mas ela persiste na frente de ambos impedindo-os de seguirem adiante.
A ESTRANHA MULHER: Não tenham medo, me chamo Juana de Píton, sou a cigana sibilante de Copacabana.
A cigana usava uma maquiagem egípcia. Seus olhos estavam teatralmente maquiados imitando o famoso olhar do deus Horus, inclusive com um terceiro olho negro aplicado na testa. A esquisita mulher possuía um rosto anguloso, masculino, com longos e cacheados cabelos negros. Vestia várias saias sobrepostas entre negras e amarelas com longos bordados, nas quais brilhavam arabescos dourados e pássaros negros; Usava um batom vermelho, várias pulseiras douradas, anéis com enormes bijuterias de pedras vermelhas; grandes argolas douradas completavam o personagem. O seu olhar intimidante inquietou Maria Rita que parecia hipnotizada. João Paulo também estava como que aturdido pela brusca situação.
JUANA DE PITON: Não tenham medo! Estou lhes esperando há bastante tempo e vejo que a áurea de vocês está ficando violácea. Isso significa que uma viagem urgente se aproxima. É uma viagem aérea. Vocês sobrevoarão rios e florestas e lá encontrarão algo que nunca imaginam... Querem saber? (Fala a frase final, deixando uma enorme língua bipartida feito a de uma serpente, sibilar, fora da boca. Depois dá um sorriso observando o efeito da bizarra ação).
MARIA RITA: (Acordando do transe) Que porra é isso? Que língua é essa, mulher? E que história é essa de algo inimaginável?
JOÃO PAULO: (Tomando a frente) É isso mesmo... Como é que você sabe da nossa viagem? E quem é você? Parece um traveco!
JUANA DE PITON: Que importa quem eu sou? Travesti mulher, mutante ou animal? Que importa? (Enquanto fala, faz coreografias com a bizarra língua bipartida, próximo ao rosto dos dois) Eu sei os seus mais sórdidos segredos. Quer saber o que lhe espera? É só cem reais. Para você que é “bacana” isso não é nada. (Dar uma gargalhada e faz um giro sob o próprio corpo).
MARIA RITA: Vamos embora João! É tudo besteira, essas ciganas são todas assim, mentem num dia o que o macaco não pula em um ano.
JUANA DE PITON: Eu sei onde está o negro que quase lhe comeu. Mais cem reais e lhe conto tudo.
JOÃO PAULO: (Assustado) Como? Quem é você, uma entidade?
MARIA RITA: (Também assustada) Calma João! Agora senti firmeza nela. Pague os cem e vejamos o que tem a dizer.
JUANA DE PITON: Duzentos, querida!. (Recebe o dinheiro e vai falando), O destino vai unir vocês de uma forma terrivelmente fantástica. Uma grande e misteriosa aventura os aguarda. Não seja covarde rapaz, no final ela será o seu prêmio. (Maria Rita dá um sorriso) Guarde o sorriso irônico. Garanto que você é quem vai ser responsável por essa situação. (Com uma sonora gargalhada a estranha cigana interrompe a conversa e depois volta a falar): O homem que tentou lhe pegar está bem próximo de vocês, mas ele vai pagar um preço muito alto por tudo isso. Lembre-se: O espelho sempre vai refletir algo, não existe imagem sem reflexo. É apenas isso pelos duzentos. E também não quero mais ver a cara de vocês. Vão embora. Vocês são muito “do bem” pro meu gosto e não me acompanhem que não sou novela. Beijo nos rabos. (Sai dando gargalhadas).
JOÃO PAULO: Que sinistro...!
MARIA RITA: Acho que era um travesti.
JOÃO PAULO: A língua bipartida é macabra. Vamos voltar para o Flamengo.
MARIA RITA: Concordo. Quero chegar a casa e transar com você.
JOÃO PAULO: Eba, com mucho gusto, vamos chica. (Beijam-se, em seguida saem caminhando em direção a um ponto de taxi).
CAPÍTULO 04

Buenos Aires naquele final de manhã estava cinzenta e fria. Após passarem pelo serviço de imigração e pela aduana, João Paulo, que não largava o livro Pipa Voada sobre Brancas Dunas adquirido na livraria siciliano do Shopping Midway, tropeçou no gigantesco corredor azul do aeroporto de Ezeiza. Maria Rita que o seguia mais atrás riu do seu atropelo e o ajudou a levantar-se.
JOÃO PAULO: Essa leitura é instigante, comecei e não consigo parar.
MARIA RITA: Estou doidinha que você termine logo para eu começar.
JOÃO PAULO: É divertido, trágico, barroco, super descritivo, além de apresentar histórias empolgantes que se misturam. É muito louco. Vou indicar aos meus alunos.
MARIA RITA: Uma amiga da mamãe, a Suellen comprou na Poty livros do Natal shopping, leu e o resumiu numa frase: Uma viagem fantástica sob o sol. Estou curiosíssima. Uma das coisas que me atrai em Natal é o talento dos artistas. Adoro o povo das artes e acho que depois que ler Pipa voada sobre brancas dunas de Junior Dalberto vou me apaixonar por sua literatura.
JOÃO PAULO: Li no avião uma matéria de um jornal que o grupo Clowns de Shakespeare está arrebentando no sul com Ricardo III. Nós vimos, lembra?
MARIA RITA: Amo muito aquele grupo. Vejo-o centenas de vezes.
Na saída, viram um cidadão de seus trinta anos com um cavanhaque e um cabelo cacheado, com um corte no estilo do jogador Maradona, sendo um pouco mais alto que o famoso atleta e bem mais interessante fisicamente. O mesmo segurava uma folha de papel com seus nomes. Dirigiram-se até o rapaz.
MARIA RITA: Ola! Tudo bem?
JOÃO PAULO: Somos o casal do cartaz. (Estendendo a mão em cumprimento)
ROBSON: Tudo bem! (Em um excelente português) Me chamo Robson. Prazer! (Aperta a mão de João e depois a de Maria Rita)
MARIA RITA: Você fala um perfeito português.
ROBSON: Obrigado! Já morei no Brasil! Foram cinco anos em Salvador e dois na Praia de Pipa.
JOÃO PAULO: Que ótimo! Moramos em Natal e vamos sempre a Pipa.
ROBSON: Que ótimo! Amo Pipa, principalmente a Praia do Amor. Adoro também ver o nascer da lua em Tibau na lagoa dos Guarairas... Super mágico aquele pedaço de mundo.
MARIA RITA: Ai moço, falando assim me deu uma saudade!!!
JOÃO PAULO: Eu também!
ROBSON: Nem fale! (Ajudando com as valises). Me acompanhem até o carro. Sou o guia de vocês enviado pela empresa. Creio que nos daremos bem. Bom, querem fazer city tour e todos os passeios da empresa ou querem algo com emoção, como falam os bugueiros das dunas de Genipabu?
JOÃO PAULO: Os dois, se possível!
MARIA RITA: Mas, com muita emoção!
ROBSON: Tudo bem! (Dirigindo a van). Vamos até o hotel para fazer a entrada de vocês. Vizinho ao hotel tem um excelente shopping chamado Galerias Pacíficos com ótimos restaurantes e lojas. (Olha pro relógio). São treze horas e dez minutos. Às quinze horas volto para pegar vocês. Farão uma city tour e só retornarão ao hotel após as dezenove horas, que tal? Bem, aqui está o hotel, chegamos!
MARIA RITA: Legal! Gostei da fachada. Vamos descer rápido, comer algo e fazermos uma caminhada.
ROBSON: Tudo bem! Mas não esqueçam o compromisso às quinze horas.
JOÃO PAULO: Impossível. (Entram no hotel)
As Galerias Pacíficos têm três pisos. Um conjunto de lojas de grifes famosas nos dois pisos superiores e no piso inferior uma praça de alimentação onde o casal degustou uma verdadeira picanha argentina. Além de primarem pelo bom gosto em suas lojas com belíssimas fachadas que nada ficam a dever aos empórios italianos, ela tem um rico detalhe que é seu teto decorado com pinturas renascentistas que nos remete a famosa Capela Sistina em Roma.
JOÃO PAULO: Sempre que venho aqui fico fascinado por esse teto!
MARIA RITA: É um luxo! Acho os portenhos muito chiques. Vamos caminhar na rua Florida?
JOÃO PAULO: Vamos sim. É logo aqui na frente.
Naquele princípio de manhã a Rua Florida estava super lotada. Fazia um frio agradável. Algumas lojas de couro estavam em promoção e os vendedores tentavam seduzir o casal para entrar nas lojas. Uma barraca de flores, em plena avenida, perfumava a via. Um cheiro de lavanda do campo predomina no ar. Mais na frente, passeando pela Rua de Mayo, o casal não consegue resistir ao chique e tradicional café Tortone. Entram no local, compram uma caixa de alfajor negros e pedem dois cafés kopi Luwak ao garçom sem se importarem com o exorbitante preço. Sorriem, enquanto bebericam e saboreiam os tradicionais biscoitos.
MARIA RITA: Hummm! Isso é que é vida!
JOÃO PAULO: Vamos voltar para o hotel... Estou querendo transar!
MARIA RITA: Eu também! Vamos! É o tempo que temos antes do guia chegar.
Às três horas e quinze minutos saem do hotel na van dirigida por Robson para a city tour. Após percorrerem o centro de Buenos Aires, passam pela Casa Rosada, algumas catedrais famosas, pela Avenida Nove de Julho, com parada ao lado do teatro Colón, e seguem em direção ao bairro de Palermo. Robson decide passar em frente ao museu Malba para entregar uma encomenda a um funcionário. João Paulo e Maria Rita, enquanto aguardam a sós, pensam em incluir uma visita ao museu no dia seguinte. João Paulo comenta que além do famoso quadro brasileiro Abaporu de Tarsila do Amaral, o acervo do museu ainda conta com obras da Frida Kahlos, Diego Rivera, Picasso, artistas renascentistas, modernistas e um fantástico Caravaggio, esculturas de Rodin, Brecheret, etc. Falava com o entusiasmo de um amante das artes. Maria Rita também admirava arte e ficou entusiasmada com a oportunidade de ver um legitimo Caravaggio. Conhecia a história do famoso pintor italiano que rivalizou com Miguelangelo. Ela era sua fã.
ROBSON: Pronto! Desculpem-me pela demora.
JOÃO PAULO: Robson... Gostaríamos de visitar o museu amanhã! É possível?
ROBSON: É sim. Mas, vocês não gostariam de viver uma aventura surreal, com direito a mistérios, suspense, etc?
MARIA RITA: Como assim? Deixou-me curiosa!

ROBSON: É o seguinte: existe uma famosa lenda portenha que, segundo dizem, acontece a meia noite no museu Malba. Fala-se que nessa hora os personagens dos quadros criam vida e tudo se transforma numa grande festa até o nascer do sol. Todavia, essa festa é para poucos privilegiados. Muita gente passa a noite no museu, mas em vão. Outros, mais sortudos, vivem a grande noite de suas vidas. Que tal?
JOÃO PAULO: Ah, que bom se fosse verdade! Já imaginou, encontrar a Frida e o Diego Rivera numa mesma noite? Seria um sonho!
MARIA RITA: E o maluco do Caravaggio!? Para mim que falo italiano? Nossa! Meu Deus, seria demais!!!
ROBSON: E então? Tenho um amigo que trabalha no museu e pode deixar uma porta aberta nos fundos por qualquer trezentos pesos. Eu garanto que será um verdadeiro passeio com muita emoção. Topam?
João Paulo e Maria Rita se entreolham seduzidos pelo clima de aventura. Para Maria Rita, mesmo que não acontecesse nada, o museu seria um lugar inusitado para fazer amor. Ficou excitada com a idéia.
MARIA RITA: Vamos, João Paulo!? Acho que será, no mínimo, divertido.
JOÃO PAULO: Tudo bem, eu topo!
ROBSON: Ok! Então às vinte e três horas e trinta minutos pegarei vocês no hotel. Importante: é bom portarem um celular para iluminar o caminho. O museu apaga todas as luzes à noite. Vamos agora tomar uma cerveja Quilmes ali no final da Avenida Nueve de Julio, próximo ao Teatro Colón, por minha conta. Depois levarei vocês para o hotel onde se aprontarão para a festa noturna. (Riem todos).
Vinte e três horas e cinqüenta minutos encontram-se, os três, nos fundos do museu Malba. O amigo do Robson, funcionário do museu, finamente deu as caras e, após receber os trezentos pesos abriu uma porta nos fundos do museu os empurrando para dentro do lugar, trancando-a em seguida. Dentro do museu, que já se encontrava às escuras, João Paulo agarrou no braço de Maria Rita:
JOÃO PAULO: Acho que não foi uma boa idéia. (comentava baixinho):
MARIA RITA: Bobagem. Se não acontecer nada, damos “uma” e esperamos amanhecer.
JOÃO PAULO: Ok!
Seguem caminhando pelos corredores utilizando a luz do celular como lanterna. De repente, escutam o som de uma música não muito distante. É um tango... adios nonino do Astor Piazzolla – Grita João Paulo.
JOÃO PAULO: É linda essa música! Continua, entusiasticamente.
MARIA RITA: Silêncio! Fala baixo João!
JOÃO PAULO: Olha Maria, tem uma luz alaranjada saindo por baixo daquela porta! Vamos ver?
MARIA RITA: É de onde está vindo a música.
Em silêncio, pé ante pé, empurram lentamente a porta. A sala está vazia. A luz laranja está surgindo de dentro de um quadro que se encontra solitário, fixado em uma parede branca, agora diante deles.
MARIA RITA: Que espécie de iluminação é essa?
JOÃO PAULO: Desconheço totalmente, parece magia ou feitiçaria!
O quadro tem aproximadamente dois metros de comprimento. É uma pintura antiga a óleo, que reproduz um casal de bailarinos dançando um tango ao lado de um pianista. Ambos estão vestidos à caráter. A moça, que traja um belo vestido vermelho com uma rosa vermelha presa entre os dentes, parece encarar Maria Rita e João Paulo com um olha inquisidor. O bailarino, vestido todo de negro e com o cabelo gomalizado, mira a bailarina com um olhar apaixonado. O pianista veste um conjunto de terno e gravata também todo em negro e encontra-se tocando um piano do qual parece sair dele a melodia que o casal brasileiro escuta. Ainda, dentro da moldura, um gigantesco espelho reflete apenas a imagem dos dançarinos.
JOÃO PAULO: Muito louco isso tudo! Estou ficando assustado.
MARIA RITA: Calma João! Pode ser efeitos especiais, uma pegadinha argentina ou uma brincadeira do nosso guia. Olha...! Em cima do espelho está escrito: Jogo dos sete erros. Está vendo?
JOÃO PAULO: Acho melhor deixar quieto! Vamos tentar sair daqui? (Puxa-a pelo braço).
MARIA RITA: Nunca! Gostei desse clima de mistério. Já achei um erro. Veja! o vestido da bailarina tem, atrás, cinco botões fechados. No espelho tem dois abertos. Olha! (Dá pulinhos de alegria). O sapato do bailarino no pé esquerdo está desamarrado e no espelho estão todos amarrados.
JOÃO PAULO: Tenho a impressão que o pianista está rindo da gente. Vamos logo com isso!

MARIA RITA: Então me ajude. Achei o terceiro! O cabelo dela, no reflexo do espelho, tem uma presilha e no original não tem. A gravata! Veja a gravata, (Quase gritando), ela é mais fina na imagem refletida. Faltam só três. Deixa de ser bobo João, me ajuda!
JOÃO PAULO: Eles estão sorrindo pra gente...Veja Maria Rita o scarpin dela está fora do pé esquerdo na imagem do espelho, é o quinto erro. Tenho certeza que se movimentaram! (Assustado).
MARIA RITA: Para com essa bobagem... Achei o sexto! Ele não tem cinto na imagem do espelho. Vamos João, me ajude a achar o sétimo erro. Estou aflita!
JOÃO PAULO: (Tremendo e gaguejando). A rosa! A rooosa caiu da boca dela.
MARIA RITA: É o sétimo! Você encontrou! Bárbaro João! A rosa vermelha não tem no espelho, é tão óbvio. (Vira-se para João que está pálido). O que houve?


FINAL

JOÃO PAULO: (Gritando) A ROSA ESTÁ NO CHÃO DO MUSEU, FORA DO QUADRO!
De repente a música sobe num tom ensurdecedor, as paredes vibram, o casal leva em agonia as mãos aos ouvidos, a luz laranja vai crescendo no ambiente até inundar todo o salão, ofuscando-os. Em seguida vai diminuindo, afunilando e sugando o jovem casal para dentro da imagem do quadro. Ao mesmo tempo o casal de bailarinos é jogado ao chão do museu, tudo numa fração de segundos.
ANNE MARIE: Finalmente, livres! Estamos livres da maldição!
PIERRE: Nem posso crer! Outro casal estúpido...
ANNE MARIE: Você quer dizer tão curiosos quantos nós fomos, não é?
PIERRE: Isso! Veja como eles ficaram bem com as nossas roupas.
ANNE MARIE: E as deles servem direitinho na gente. (Rodopia admirando-se).
PIERRE: Vamos Anne Marie, estou com saudades dos nossos filhos, deve fazer um século que estamos aqui.
ANNE MARIE: Exagerado! Talvez uns anos.
Saem caminhando em direção à saída. Ela encontra o celular no chão e diz: olha! - Mostra para Pierre e ele dá de ombros. Ela volta-se, olha para o novo casal habitante do quadro, joga o telefone na lixeira encostada na parede onde está o quadro dos sete erros e apressa o passo em direção ao amigo.
Após duas semanas do sumiço do casal Maria Rita e João Paulo, Buenos Aires continua com o tempo nublado. O aeroporto de Ezeiza, coberto por uma cerração naquela noite, recebe dois ilustres visitantes brasileiros, que enquanto aguardam os trâmites de imigração conversam animados.
D. JAIRA: Que simpáticos os pais do João Paulo! Preocupados com nossos filhos nos mandam passagens, pagam o hotel incluídas as refeições para uma semana sem sequer perguntarem se somos casados.
MESTRE DADO: Eu só sei que estou adorando essa porra toda, tomara que demore bastante a encontrar sua filha e o playboyzinho.
D. JAIRA: Você está maluco? Quero achar logo a minha filha. Se bem que acho que ela deve está se divertindo horrores.
MESTRE DADO: Se puxou a você, deve está mesmo.
D. JAIRA: (Na fila do passaporte) Ainda bem que essa fila anda. Mas você viu que até a empresa de viagem é a mesma? Aquele casal milionário pensa em tudo.
MESTRE DADO: (Saindo da fila) Então seu nome é Jaira! Eva Luna foi só uma viagem!
D. JAIRA: Meu bebê (Pegando no queixo do rapaz), a vida é uma eterna viagem, e por falar nisso precisamos descobrir aonde tem maconha por aqui, sei que haxixe existe.

MESTRE DADO: Acho que aquele rapaz está nos chamando.
D. JAIRA: E tem nossos nomes em uma folha, vamos lá!
ROBSON: Boa noite! Fizeram boa viagem? Meu nome é Robson, sou o guia enviado pela agência.
MESTRE DADO: Prazer! Dado. Amigo, você é brasileiro?
ROBSON: Não. Sou Argentino, mas vivi cinco anos em Salvador e outros anos em Pipa.
D. JAIRA: Massa! Meu nome é Jaira, e se viveu na Pipa sabe aonde tem maconha por aqui.
Os três caem na gargalhada. Robson pega as malas dos dois e caminha para a van.
ROBSON: Já conhecem Buenos Aires?
D. JAIRA: Eu sim. Amo a vida portenha. Não vim a turismo, mas sim procurar minha filha e o namorado que sumiram há um quinze dias. Ainda ontem eu consegui um contato após todo esse tempo.
MESTRE DADO: Foi mesmo? Sinistro!
ROBSON: (Dirigindo) Vou levar vocês até o hotel, mas como foi isso? (lá fora começa a chover muito forte. Raios e trovões acompanham o aguaceiro).
D. JAIRA: Depois de tentar ligar todos os dias, ontem fizemos contato. Era quase meia noite e alguém atendeu o celular de Maria Rita com um sotaque que não era Argentino e também não consegui identificar. Falou alô, alô, duas vezes e uma música suave de um tango ouvia-se a distancia. Eu perguntei de onde fala: A voz falou: museu MALBA. De repente, a música cresceu assustadoramente e o telefone ficou mudo.
ROBSON: Coincidentemente, creio que fui eu quem recebeu a sua filha há uns quinze dias. Acho que você falou Maria Rita, não foi?
MESTRE DADO: Caralho! É isso mesmo!
D. JAIRA: Minha Nossa Senhora das Flores. Viu mestre Dado? Nada é por acaso. Conte tudo amigo, aonde os deixou?
ROBSON: No mesmo hotel que vocês vão ficar. Mas com a história do museu lembrei-me de um fato.
D. JAIRA: Que fato, homem?
MESTRE DADO:Desembucha!
ROBSON: E que eu havia falado pra eles de uma lenda urbana argentina que acontece no museu MALBA.
MESTRE DADO: Tô ligado!
D. JAIRA: Adoro isso de lenda urbana, continue!
ROBSON: Bem, dizem que a meia noite no museu MALBA... (Ele relata a lenda)
MESTRE DADO: Do caralho cara! Vamos lá, quero ver esse treco.
D. JAIRA: E você consegue isso pra gente?
ROBSON: É claro. O rapaz do museu cobra mil pesos por pessoa e ainda temos que comprar alguns baseados pra vocês curtirem a noite.
MESTRE DADO: Dinheiro não é problema. Não é Eva?
ROBSON: Eva? Não é Jaira?
D. JAIRA: É a forma carinhosa que ele me chama. Robson, dinheiro não é problema, um casal milionário está financiando essa aventura. Então que horas você vem nós pegar?
As vinte e três horas e cinqüenta e cinco minutos, D. Jaira e Mestre Dado estavam adentrando ao museu. Do lado de fora, nos fundos do teatro, Robson entregava duzentos pesos ao porteiro e saia rindo, sozinho, na chuva em direção ao carro.
MESTRE DADO: Esta ouvindo? Que música massa! Deve ser a tal da festa urbana.

D. JAIRA: Lenda urbana!, (Falando para si, enquanto caminha em direção a à luz amarela) Santa ignorância! O que não agüentamos por amor!
MESTRE DADO: (Passa o cigarro de maconha para D. Jaira). Caralho, que viagem!
D. JAIRA: (Diante do quadro do tango no espelho) Massa, veja bebê: O jogo dos sete erros. Igual ao das palavras cruzadas.
MESTRE DADO: Tô ligado e já achei um.
D. JAIRA: Qual? (Olhando pro quadro dos bailarinos e do senhor no piano).
MESTRE DADO: A mulher ta segurando um celular e no espelho ela não tem nada na mão.
D. JAIRA: Bebê, às vezes você me surpreende, é verdade! Olhe outro erro: o vestido dela está com botões a menos no reflexo do espelho....
MESTRE DADO: Hi caralho! Achei outro! Veja o cinto dele, não tem no espelho.
D. JAIRA: Que estranho! Parece que estão rindo da gente!
MESTRE DADO: Cara, deve ser esse fumo, um fumo da porra. Veja, achei outro!
Enquanto o eufórico casal viaja no jogo dos sete erros, não percebem que a iluminação da sala vai crescendo, ficando mais alaranjada, dominando todo o ambiente e a música começa a ficar cada vez mais alta.
Dentro de um avião das aerolíneas argentinas um casal viaja em silêncio. Abraçados desde as últimas duas horas. Esperando o momento em que colocarão os pés novamente no Brasil e esquecer de vez aquele pesadelo portenho passado nos últimos dias presos dentro daquele quadro no museu MALBA.
JOÃO PAULO: (Vencendo o demorado silêncio) Fiquei com pena daqueles dois.
MARIA RITA: Eu também João. Mas éramos nós ou eles. Acho que são peruanos.
JOÃO PAULO: Acho que não, penso que espanhóis.
Do lado de fora da aeronave, uma forte chuva com raios e trovões assustavam os viajantes.
...FIM...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.