sábado, 11 de maio de 2013


TITINA E A FADA DOS SONHOS
                                                                                     AUTOR: JUNIOR DALBERTO 


PERSONAGENS: 
TITINA
TIO BETO
PRINCIPE
SACI
BICHO PAPAO
FADA DOS SONHOS


SINOPSE:
TITINA é uma criança muito curiosa, ela não entende as estranhas situações que ocorrem com determinadas personagens dos contos de fadas e de algumas lendas brasileiras. Busca explicações para essas indagações com o sempre presente Tio    Beto, que pra fugir de tanta curiosidade recorre à fada dos sonhos..






TIO BETO:         Minha sobrinha Titina é a menininha mais bonitinha do mundo. Claro que sim!  Eu acho e ponto final, afinal eu sou o tio babão dela né? E todo tio é apaixonado por seus sobrinhos. Além de bonita é muito inteligente. Titina é uma criança muito questionadora, perguntar é sua paixão, quer saber de tudo, de onde vem, pra onde vai como foi feito, pra que serve etc., etc. e haja paciência. Vocês imaginem que quando ela nasceu meu irmão Francisco e minha cunhada Maria pais da sapeca menina, apostaram entre eles que a primeira palavra que a garotinha falaria seria mamãe ou papai e quem perdesse a aposta, passaria uma semana inteirinha limpando as fraldas sujas do bebê. Escondidos um do outro, ficavam repetindo as palavras papai e mamãe á todo momento para a pequena criança, que indiferente, não lhes dava a mínima atenção, preferindo desmanchar os brinquedos para ver o que havia dentro deles, as bonecas todas ficavam sem pernas, braços e cabeças, um cachorrinho poodle de pelúcia ficou sem o rabinho e uma perna além de todos os enchimentos, bolas eram esvaziadas porque ela no mínimo queria ver o ar que as mantinha cheias e saltitantes. Um belo dia pela manhã foi levada a passear na praia, era o aniversário de três anos e ainda não balbuciava uma palavrinha sequer, parecia pirraça. Caminhando pela praia de mãos dadas com o pai encontrou uma concha, o pai colocou a concha seu ouvidinho para ela ouvir o som que saia de dentro da concha, a menina ficou surpreendida e maravilhada com o som que parecia o barulho das ondas da praia chegando às margens em marolas. Titina olhava pro pai sorrindo, mas com o olhar indagador e apontava para a concha, senhor Francisco achou que ela queria levar a concha para casa; e colocou dentro da sacola que trazia a mão, Titina deu de ombros e seguiu brincando nas marolas da praia. Ao chegar a casa pegou a concha e levou para sua mãe que estava na cozinha preparando um belíssimo e confeitado bolo para comemorar o aniversário da filhinha. Titina, indiferente ao seu bolo de aniversário, pegou a concha e mostrou a mãe com o mesmo olhar indagador. D. Maria olhou para a filha e falou: Nossa que linda Titina, coloca no ouvido pra ouvir o barulho do mar, veja é assim, e sua mãe colocou a concha no ouvido e ficou imitando o barulho do mar, depois colocou no ouvido da filha, que pegou a concha e não satisfeita com as respostas para sua curiosidade, deixou a concha sobre o armário da pia. Em seguida caminhou com aqueles passinhos trôpegos que todo bebe possui arrastando um banco de madeira até próximo a pia onde se encontrava a concha, subiu sem que sua mãe notasse no banco com bastante esforço e pegou a concha, ficou de pé em cima da pia e a atirou no chão partindo-o em vários pedaços. Os pais correram para ver o que estava acontecendo, surpresos viram que TITINA estava recolhendo os pedaços da concha e levando um a um aos ouvidos e decepcionada desandou em um choro, ficou triste vários dias por não encontrar nada dentro da concha e haver perdido o curioso som. Dias depois ainda chorosa veio até o seu tio Beto que na verdade sou eu, e com os cacos da concha na mão mostrou pra mim e falou pela primeira veze diante de todos. Tascou um pouque? Assim mesmo pouque! Continuei alguns segundos em silencio perplexo com a pergunta e emocionado com sua primeira palavra, mas logo em seguida perguntei por que o que minha princesa? Ela perguntou novamente: Pouque a toncha fitou talada? Então fui explicar poeticamente que ninguém consegue prender o inexplicável, o som que sai das conchas marinhas não tem explicação, são mágicos e isso basta.  Ela fez uma carinha de que entendeu e foi brincar no jardim. E assim de questionamentos, perguntas absurdas, tipo porque o céu é azul? Pra onde vamos quando morremos? Os animais possuem almas? Que ela foi crescendo para desespero dos pais, professores e coleguinhas da escola. Eu era o único que com minha mente fantasiosa e conhecimentos adquiridos pelas minhas leituras e viagens pelo mundo conseguia dar respostas as suas grandes dúvidas, mas isso, apenas nas férias escolares, quando ela vinha passar comigo no sítio ao sopé de uma montanha e cercado de animais domésticos, arvores e rios, onde comungo com a natureza.
O ano passado durante sua ultima visita ela veio com essa pergunta no dia que completou sete anos e que ficou até hoje na minha mente. Porque a gente vive aqui e não em outro planeta? E La fui eu com minha mente eco positiva. Porque aqui é o melhor lugar do mundo, temos ar para respirar, árvores, animais, água, etc. além de estarmos protegidos relativamente de tudo, nesse mundo você vai ver com seus próprios olhos a beleza que é a vida. Observar o brilho radiante do sol nas penas do beija flor, sentir o cheiro da chuva molhando a terra, o sabor de uma manga madura, o prazer do banho de mar e etc. Com o tempo você vai crescer, colocará o pé na estrada para conhecer mais a vida e caminhará pelo mundo. Titina fez uma carinha que havia entendido tudo, deu um sorriso, mas continuou questionando tudo em sua volta.




TITINA:               Tio Beto! Oh tio Beto!
TIO BETO:         Fala minha flor, o que queres?
TITINA:               Tio, eu estou aqui pensando numa coisa.
TIO BETO:          iiiih, vem coisa por ai, quer ver? Diga meu anjo, o que estás      pensando?
TITINA:                Bem, é que...é que...é que...
TIO BETO:          O que é isso, uma nova música de forró?
TITINA:                Não tio, para com isso, não é nenhuma música não, é sobre                             esse livro de contos infantis.
TIO BETO:         Deixa ver. Hummm...Cinderela? Legal, eu gosto muito dessa     história.
TITINA:                Eu também gosto. Mas não entendi uma coisa...
TIO BETO:          O quê Titina?
TITINA:                O príncipe! Ele não passou todo o baile dançando com a
                           Princesa Cinderela?                              
TIO BETO:          É verdade, é isso o que está escrito.
TITINA:                Então, como é que ele não se lembra do rosto da princesa?
TIO BETO:          Como assim?
TITINA:               Por que é que ele no dia seguinte ao baile fica procurando entre todas as moças do reino um pé que caiba no sapatinho de cristal da garota que o largou no pé da escada e não pelo rosto da sua parceira de dança na festa do baile? Afinal, ele passou todo o baile dançando com ela e dizem que era de uma mágica beleza e ele não consegue lembrar o rosto? Isso é muito estranho, muito esquisito,.estou muito curiosa, por favor tio, por favor, eu preciso de uma resposta urgente.
TIO BETO:          E agora? Como vou responder esse enigma? Tenho que
                             Pensar, meu Deus e agora!
TITINA:                E tem mais!
TIO BETO:          Lá vem mais essa...
TITINA:               Tem outra história que também não consigo entender.                                                                                                                                  Tenho mais duas dúvidas que me atormentam a minha cabecinha.
TIO BETO:          Eu mereço, eu mereço. Fala então, o que mais aflige essa         cabecinha?
TITINA:                Primeira pergunta: Por que o saci pererê fuma? Será que ele                            não sabe que faz mal a saúde?
TIO BETO:          Essa não vai ser fácil.  Me salva meu São Cascudo!
TITINA:                Tem mais, meu querido tio, tem só mais uma por hoje.
TIO BETO:          Continue, agora é só respirar, pensar e responder.
TITINA:                Bem, por que o bicho papão se esconde sempre no escuro, seja dentro dos armários ou embaixo das camas? Se é ele, que tem que assustar a criançada?
TIO BETO:          Bem, minha querida sobrinha, eu acho que não tenho essas    respostas agora. Poderia até inventar algumas, mas acho                                                                                                                                                                                                                                                 melhor você procurar quem sabe.
TITINA:                Sei....E QUEM É QUE SABE? (Gritando impaciente)
TIO BETO:          Calma, calminha, calmão! Nada de pânico, eu vou lhe falar.
TITINA:                Vai logo tio, estou nervosinha, fala logo, vai, que demora.
TIO BETO:          Deixe disso, o negócio é você falar com a fada dos sonhos.
TITINA:              Fada dos sonhos, e ela existe?
TIO BETO:         Não diga isso nunca! Cada vez que alguma questiona a existência das fadas morre uma no mundo da fantasia.
TITINA:                Então existe mesmo, com asinha e tudo?
TIO BETO:          Pois existe sim, com asinha e fantasias, são lindas, mas pra ver só com merecimento, e prá falar; só em um bom sonho.
TITINA:                Há tio! Ninguém tem mais merecimento do que eu, sou uma menina aplicada, não sou teimosa, boa amiga, aprendi a ler quando fiz cinco anos lembra? O senhor me deu até o livro da                              Reinação de Narizinho do Monteiro Lobato.  Fiquei até amiga da Emilia, lembra?
TIO BETO:          Foi sim, foi mesmo, ela veio até aqui almoçar com agente           juntamente com o mestre Rabicó, foi muito legal.
TITINA:                Foi mesmo, preciso retribuir sua visita qualquer hora no sitio do pica   pau amarelo.
TIO BETO:          To dentro.
TITINA:                Deixe de me enrolar e fale-me como encontro a fada dos sonhos.
TIO BETO:          Dormindo, e claro!  Sonhando.
TITINA:                Isso é bem lógico, afinal ela é a fada dos sonhos, porque não pensei             nisso?
TIO BETO:          Porque para isso eu estou aqui, para tirar as suas duvidas.
TITINA:                Então, tudo bem. Vou dormir agora.
TIO BETO:          Já? Acabasse de chegar, nem fosse à lagoa, nem ver os animais,       tem patinhos novos sabia? Agora temos um casal de pavões, fiz     uma casinha no pé de goiabeira prá você, tem até uma escadinha, vá ver.
TITINA:                Tá louco tio? E minhas dúvidas? Elas estão sempre em primeiro          lugar, se eu não souber as respostas agorinha não consigo       concentrar em mais nada.
TIO BETO:          A quem será que puxou essa menina? Sempre tão apressada.
TITINA:                Tio, (bocejando), estou tão cansada, há viajem foi tão longa, está         me dando um soninho.
TIO BETO:          Conheço-te, viu? Conheço-lhe demais, passa, vai logo pro teu             quarto, mas não se esquece de escovar os dentes.
TITINA:                Tá bem, tá bem.  (saindo)
TIO BETO:          Essa menina vale por mil.
TITINA:                Tio! (Voltando)
TIO BETO:          Que foi? Errou o quarto?
TITINA:                Como vou encontrar a tal fada?
TIO BETO:          Claro que é sonhando, não já lhe falei.
TITINA:                Tão simples assim, não tem nenhuma palavrinha mágica? Pó de pir-  lim-pim-pim? Musica baiana? Cantar escravos de Jó?
TIO BETO:          Apenas pensar bastante nas suas dúvidas e pedir prá ela em voz alta aparecer no seu sonho. Ok?
TITINA:                Tudo bem é simples, vou fazer. (sai)
TIO BETO:          Finalmente, acho que vou ver os animais. (sai). 



(QUARTO DA TITINA). 
TITINA:                 (Rolando na cama)- Droga, droga, droga, não consigo pegar no          sono, uma hora deitada e nada, mas vou conseguir! Vou vencer no    cansaço, há se vou. Já sei, vou cantar carneirinhos, vamos lá, hum,        dois, três, quarto, cento e vinte e três, (Olhando pro teto),                              quatrocentos e dez, mil e seiscentos e vinte e dois, mil e seiscentos    e vinte e três, tá me dando um soninho, hummmmmm.  (Adormece, segundos depois acorda).
TITINA:                TTTTTIIIIIIOOOOOOO. (Gritando a plenos pulmões)
TIO BETO:           (Assustado entra no quarto) Que houve? Pesadelo?
TITINA:                Ela não veio, ela não veio, tanto que pedi, que chato, estou com muito mau humor.
TIO BETO:          A culpa é minha.
TITINA:                Como assim?
TIO BETO:          Esqueci-me de falar que ela só aparece nos sonhos noturnos.
TITINA:                Ah é! E por quê?
TIO BETO:          Porque de dia ela atende as crianças do Japão.
TITINA:                Coitadinha, deve ficar muito cansada de passar a vida nos sonhos dos outros.
TIO BETO:          Principalmente de meninas curiosas como você.
TITINA:                Há vai tio, eu só estou querendo aprender.
TIO BETO:          Tudo bem, tudo bem, vamos então ver os patos na lagoa que logo vai escurecer, e caindo a noite você vai sonhar a vontade.
TITINA:                E encher a fada de perguntas, há se vou quero saber tudinho.
TIO BETO:          Tadinha da fada, não quero tá na pele dela. (Saem).
                             - Após passar o resto da tarde passeando, tentando esquecer a ansiedade que ela mal conseguia disfarçar, finalmente chegou à noite com uma linda lua cheia prateada, a pequena Titina após o jantar, correu para escovar os dentes, deu um beijo de boa noite no tio e foi deitar-se.
TITINA:                Tomara que dessa vez eu durma logo viu dona fada dos sonhos? É melhor a senhora não me enrolar e tratar de aparecer, senão eu falo com a fada Sininho que é muito, mas muito minha amiga mesmo e faço uma reclamação no conselho das fadas, tá pensando o que? Que eu sou uma menina desinformada, não sou mesmo.  Venha não prá ver, olhe vou começar a contar os carneirinhos, hum, dois, três, dezesseis, humm (bocejando) sessenta e seis, hummmmmmmmm (adormece).



FADA:                  Então finalmente dormiu, que menininha cheia de energia e de perguntas, mas isso é bom, vai ser uma adulta bem informada. E então vamos conversar Titina!
TITINA:           (Abrindo os olhos) Meu deus é a fada dos sonhos, fadinha me belisca vai pra eu ver que não estou sonhando.
FADA:              Calma Titina, você está sonhando, se eu beliscar você acorda e eu desapareço.
TITINA:            Então não me belisca, não quero acordar nunca, nossa como é linda a fada dos sonhos, como faço pra virar fada?
FADA:            Gente nunca vira fada. Fadas, duendes, gnomos, etc, são produtos do mundo da imaginação, da fantasia das crianças e dos escritores, nossos mundos são vivos dentro dos livros de fábulas e contos, enquanto existir crianças que acreditam em fadas e viajam em uma boa leitura, os contos de fadas irão existir, entende Titina.
TITINA:             Os escritores foram crianças que acreditaram em fadas, é isso?
FADA:               Exatamente, eles nos dão vidas, dão cores ao nosso mundo, escrevem nossas aventuras e esse mágico lugar está dentro da imaginação de cada criança feliz.
TITINA:             Papo muito cabeça dona fada, meio caverna do dragão, shiriu, bob esponja, sei lá, eu quero é minhas respostas, não adianta me enrolar dona fada, se adianta vai, olha que de repente eu acordo e continuo na duvida.  
FADA:                Tudo bem minha menina perguntadeira. Brincadeirinha de fada!!
TITINA:              Sei não, até a minha fada é folgada.
FADA:                Bem Titina é legal você querer saber informações, tirar suas duvidas, etc. Vou levar você para o meu mundo para que possas conversar pessoalmente com essas personagens.
TITINA:          Não acredito fadinha, vou conhecer o Príncipe?
FADA:            E também o Saci Pererê e o pavoroso Bicho papão, eles irão tirar suas dúvidas.
TITINA:           Eba!!!Essa fada é das minhas, viva dona fada, viva.
FADA:           Agora, calma lá, vai ser a primeira e última vez que apareço, porque todas essas respostas estão bem visíveis em alguns bons livros, temos maravilhosos autores que nos permitem sonhar e viajar em histórias maravilhosas enquanto nos ensinam fantásticas maneiras de viver bem, ter qualidade de vida e fazer um mundo melhor.
TITINA:     Eu sei, sou fâ de Monteiro Lobato e Maria Clara Machado.
FADA:       Eles são muito bons, mas tem muitos mais, procure-os e vai descobrir a cada dia um mundo novo rico em magia, estripulias, fantasias, culturas e diversão. Agora vamos dormir que estamos com muito sono não é Titina, beijos, foi um prazer lhe conhecer.
TITINA:         O prazer foi todo meu toda fada. (bocejando) estou realmente com muito sono, boa noite. – Adormece.
                          - É sobressaltada pela presença do príncipe da Cinderela.



PRÍNCIPE:         Princesa, ôoo acorda princesa, calce esse sapatinho, vai.
TITINA:                O que é isso? Me larga. - Empurra a mão do príncipe que segura o seu pé direito.
PRÍNCIPE:         Por favor, princesa, experimenta vai.
TITINA:                Não vou experimentar nada, passe prá lá, hei largue meu pé.
PRÍNCIPE:         Nossa como é nervosa, não fazem mais princesas como antigamente.
TITINA:                Não sou princesa e quem é o senhor?
PRÍNCIPE:         Eu sou o príncipe da Cinderela, do conto de fadas universal. Não sou um príncipe lindo?
TITINA:                Menina, não é que funcionou a história da fada do sonho.
PRÍNCIPE:         Que fada? Me de o pé vá princesa.
TITINA:                Larga de mim chulé, nossa que príncipe chato.
PRÍNCIPE:         Por favor, por favor, experimenta só uma vez, eu venho de tão longe, preciso encontrar a princesa desse sapato.
TITINA:                Posso até experimentar, mas antes você! Desculpe sua excelência, vai me responder uma curiosidade.
PRÍNCIPE:         Respondo qualquer coisa, mas, por favor, experimenta o sapatinho.
TITINA:                Depois, primeiro quero saber uma coisa importantíssima.
PRÍNCIPE:         Nosso quanto suspense, o que será que é tão importante prá você princesinha?
TITINA:                Ai, ai, ai, já lhe falei várias vezes que não sou princesa, sou só uma menina.
PRÍNCIPE:         Mas as princesas foram meninas um dia.
TITINA:                Mas não é o meu caso, pare de enrolar e vamos direto ao que interessa.  Você, perdão sua excelência é mesmo o príncipe da Cinderela não é?
PRÍNCIPE:         Super lindo e ao seu inteiro e majestoso dispor.
TITINA:                Como é que uma pessoa passa uma noite inteira dançando valsa e mais valsa com uma princesa e não lembra o rosto dela?
PRÍNCIPE:         Como assim? Desnorteado pela pergunta.
TITINA:                Na sua história, você tenta localizar a princesa por esse seu sapatinho que você tá querendo que eu experimente.
PRINCIPE:       Você experimenta primeiro e depois lhe conto.
TITINA:         Nadica de nada, primeiro a resposta, depois eu calço o sapatinho.
PRÍNCIPE:         E agora? E agora? Que faço?
TITINA:                Já sei!  Tem algum segredo, não é?
PRÍNCIPE:         Tem sim, e posso até lhe dizer, mas você vai jurar não contar prá nenhuma outra criança, tá bem?
TITINA:                Eu prometo, eu juro to louquinha de curiosidade, fala logo príncipe, vai!
PRÍNCIPE:         Calce o sapato primeiro.
TITINA:                Primeiro o segredo.
PRÍNCIPE:         Que menina birrenta, tomara que o sapato não caiba no seu pé, será uma princesa muito curiosa e chata. - Fala de costas pra Titina.
TITINA:                Que falou sua alteza?
PRÍNCIPE:         Falava com meus botões?
TITINA:                Pois mande eles ficarem calados e me conte logo o segredo, se bem que já imagino.
PRÍNCIPE:         Ok!  Ok!  (Virando-se para Titina com uns horríveis óculos de fundo de garrafa no rosto). Esse é o grande segredo sou extremamente míope, tá satisfeita em transformar um famoso e belo príncipe num sapo feio e de óculos?
TITINA:                Gente, como sua alteza fica feio com esses óculos, tudo bem não vou gargalhar, mas vou lhe indicar alguém que pode resolver seu problema.
PRÍNCIPE:         Quem? Quem? Fale logo, fala.
TITINA:                E eu que sou estressada, calma sua alteza, calma, é só procurar o velho Gepeto pai de Pinóquio, ele também é míope, mas usa uns óculos bem mais modernos que o seu, peça a ele prá ir ao seu oftalmologista, muda à lente, coloca uma armação mais maneira e sua alteza volta a ficar lindo.
PRÍNCIPE:         E não precisarei mais procurar ninguém pelo sapato, já que vou enxergar novamente.
TITINA:                Beleza de Creusa.
PRÍNCIPE:         Quem é Creusa?
TITINA:                Deixa prá lá príncipe, é só um ditado popular.
PRÍNCIPE:         Tudo bem, já contei o meu segredo, agora calce o sapato.
TITINA:                Tudo bem, me dê aqui.
PRÍNCIPE:         Pegue!
TITINA:                Impossível, é muito pequenino.
PRÍNCIPE:         Você é quem tem o pé enorme, ainda bem.
TITINA:                Ainda bem por quê?
PRÍNCIPE:         Porque eu teria que casar com você e és uma menina muito curiosa e birrenta.
TITINA:                QUEM DISSE QUE EU IRIA QUERER CASA COM UM PRÍNCIPE QUE TEM MEDO DE USAR ÓCULOS?
PRÍNCIPE:         Sua chata, vou embora.
TITINA:                Já vai tarde seu sapo míope, vá logo coisa feia.
PRÍNCIPE:         Mal educada, barraqueira.  (saindo)
TITINA:                Me erra alteza. Arg, finalmente foi embora, eu imaginava que era esse o problema, ninguém dançaria uma noite inteira e não lembraria o rosto da pessoa no dia seguinte, só sendo deficiente visual, bem está vindo um soninho, vou voltar a dormir. 


SACI-PERÊRE: Quem disse?
TITINA:                Quem tá falando?
SACI:                   Sou eu.
TITINA:                Eu quem? Não vejo ninguém?
SACI:                   O saci pêrere, todinho prá você.
TITINA:                Bobagem, você não existe, não acredito em você.
SACI:                   Ah é, então não vai me ver.
TITINA:                Espera que estou falando? Desculpa seu saci, mas, onde está você?
SACI:                   (Música) Aqui, ali, ali ou acolá.
                                                Aqui, ali, ali ou acolá.
                                                Eu sou o saci
                                                Saci-pererê
                                                Rápido como o vento
                                                Eu chego até você
                                                Aqui, ali, ali ou acolá.
                                                Aqui, ali, ali ou acolá.
                                                É só acreditar
                                                Que eu vou me mostrar
                                               Continue acreditando,
                                               Que eu chego brincando
                                               Aqui, ali, ali ou acolá.
                                               Aqui, ali, ali ou acolá.
                                               Rápido como o vento
                                               Eu chego rapidinho
                                               Numa ventania ou um redemoinho,
                                               Aqui, ali, ali ou acolá.
                                               Aqui, ali, ali ou acolá.
                                               É só acreditar
                                               Que eu vou me mostrar
                                               Continuem acreditando
                                               Que eu chego brincando.


TITINA:                Legal saci, que música maneira.
SACI:                   E então? Que deseja prá fada do sonho me trazer até aqui?
TITINA:                Foi ela quem mandou você aqui?
SACI:                   Claro, no mundo das fábulas, sonhos, fantasias ou mitos é ela quem manda.
TITINA:                Poderosa a moça né!
SACI:                   Hi garota, ela é demais, manda o tempo ir prá frente ou ir prá trás.
TITINA:                Estou lisonjeada por ela atender meu pedido.
SACI:                   Atender não! Ela continua lhe atendendo, não seja ingrata.
TITINA:                É verdade, seu saci, é verdade.
SACI:                   Vamos deixar de lero lero e fala logo o que quer.
TITINA:                Já vi que é estressadinho, feito o príncipe.
SACI:                   Eu tenho que brincar, correr no campo, pegar carona nos ventos, não gosto de perder tempo com coisa séria.
TITINA:                Tá bem, tá bem.  Porque o saci fuma e como perdeu a perna? Foi alguma doença proveniente do péssimo hábito de fumar?
SACI:                    (Dar gargalhada) Parece gente grande falando? Foi alguma doença proveniente do péssimo hábito de fumar? (imitando a Titina).  Que menina chata!
TITINA:                Não sou chata, sou pertinente segundo meu tio que é uma pessoa esclarecida.
SACI:                   E ainda é topetuda, hei garota, tem medo de mim não é? Todo mundo tem.
TITINA:                Eu não, imagine prá mim você é apenas um moleque brincalhão e divertido.
SACI:                   To sem moral, nem uma molecota tem mais medo de mim, no que deu a globalização, fique popular demais.
TITINA:                Pois então, vamos que vamos, me responda logo que quero voltar a dormir.
SACI:                   E se eu não responder o que vai acontecer?
TITINA:                Denuncio você prá fada dos sonhos e para a sociedade protetora dos mitos Brasileiros.
SACI:                   Para a fada não, por favor, não fale nada, ela me castiga, agora essa sociedade não sei o que dos mitos eu não conheço e não tenho medo dela.
TITINA:                Tudo bem, eu acabei de inventar, mas me responda por que fuma?
SACI:                   Eu poderia responder que fumo porque gosto, mas não é verdade.
TITINA:                Então não estou entendendo mais nada.
SACI:                   Primeiro perguntadeira, eu não fumo, esse cachimbo está sempre apagado, é apenas um acessório de minha personagem.
TITINA:                De muito mau gosto e fora de moda.
SACI:                   Tudo bem, concordo contigo, mas no passado era legal andar com um cachimbo, mas ele me causou um problemão.
TITINA:                Não duvido mesmo, o fumo faz mal a saúde.
SACI:                   E o hábito do cachimbo deixa a boca torta.
(Riem os dois)
TITINA:               Engraçado você saci, mas qual foi o problemão que o cachimbo causou?
SACI:                  Conheces o Curupira?
TITINA:               Quem?
SACI:                  O curupira, um mito brasileiro do meu tamanho, que anda pela floresta perseguindo os caçadores, ele é o protetor oficial da floresta.
TITINA:               Que legal, uma espécie de guarda florestal.
SACI:                  Mais ou menos isso, porém (Olhando para os lados e falando baixinho), mas ele é muito feio, cabelos desgrenhado e vermelho, cara de índio enfezado, fuma muito e tem um detalhe bem estranho.
TITINA:               Nossa, eu estou curiosíssima, que detalhe.
SACI:                  Tem os pés pra trás.
TITINA:               Como assim, pés prá trás, então ele anda de costa?
SACI:                  Nananinanão, o corpo dele é normal, só o calcanhar fica prá frente e os dedos dos pés apontam prá trás.
TITINA:               Que bizarro esse menino.
SACI:                  Fale baixo, ele é muito mal humorado.
TITINA:               Eu não tenho medo dele, pode aparecer que eu converso com ele.
SACI:                  Eu estou procurando ele há quase quinhentos anos.
TITINA:               Se você tem medo porque o esta procurando?
SACI:                  Quero minha perna de volta.
TITINA:               Agora embaralhou tudo, como é que é?
SACI:                  Bem, há muitos séculos atrás, quando aqui no Brasil só viviam os índios, nós, mitos e lendas andavam por todos os lugares do país sem sermos incomodados.
TITINA:               E daí?
SACI:                  Estava eu e a mula sem cabeça brincando de cabra cega, quando apareceu o curupira.
TITINA:               Queria brincar também?
SACI:                  Não, queria o fumo do meu cachimbo.
TITINA:               Mas você falou que não fumava que o cachimbo era só charme.
SACI:                  Exatamente, porém Curupira não acreditou, olhou o cachimbo e mandou que arrumasse fumo pra ele e urgente, eu dei uma gargalhada, achando que era brincadeira, a mula sem cabeça quase desmaia de tanto rir.
TITINA:               Nossa, o curupira deve ter ficado furioso.
SACI:                  Ficou possesso, ele tem poderes bem estranhos, pegou na minha perna e arrancou, fiquei só com uma assim meio perneta.
TITINA:               Pobre saci, e daí?
SACI:                  A mula sem cabeça desmaiou ou fingiu desmaiar, não senti dor nenhuma, o curupira colocou a minha perna num bornar que ele leva na cintura.
TITINA:               O que é bornar?
SACI:                  Uma bolsa de couro de cabra, a dele é mágica, cabe até o mundo todo dentro, depois ele foi saindo e disse que eu arranjasse o fumo que devolveria a minha perna.
TITINA:               Mas não é difícil encontrar fumo, nas bancas e mercearias tem bastante.
SACI:                  Pois é, o fumo eu consegui, mas você esqueceu um detalhe.
TITINA:               O que?
SACI:                  O curupira tem os pés prá trás, suas pegadas são sempre no sentido contrário e em alguns lugares ele faz círculos de pegadas prá que nenhum caçador o encontre.  Então minha cara amiguinha, são quinhentos anos de procura com esse cachimbo apagado na boca.
TITINA:               Pobre Saci, agora que sei seu problema fico triste porque não posso ajudar em nada.
SACI:                  Mas não se preocupe, essa perna dá pro gasto e eu vou me divertindo aonde passo, sabe por quê?
TITINA:               Não, por quê?
SACI:                   (Musica)
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            Eu sou o saci
                            Saci-pererê
                            Rápido como o vento
                            Eu chego até você
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            É só acreditar
                            Que eu vou me mostrar
                            Continue acreditando,
                            Que eu chego brincando
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            Rápido como o vento
                            Eu chego rapidinho
                            Numa ventania ou um redemoinho,
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            Aqui, ali, ali ou acolá.
                            È só acreditar
                            Que eu vou me mostrar
                            Continuem acreditando
                            Que eu, logo chego brincando.
TITINA:              Tudo bem seu Saci, agora já sei a resposta estou satisfeita, todavia estou cansada e gostaria de dormir mais um pouco antes do dia nascer, tudo bem?
SACI:               Você é chatinha né? Logo agora que eu estava gostando, tá bem, Tchau. (Some).
TITINA:            Nossa esses personagens do mundo imaginário são muito nervosinhos, aff, estou muito cansadinha, vou dormir agora mesmo.



BICHO PAPÃO: Vai nada.
TITINA:          Quem falou?
B. PAPÃO:      Eu.
TITINA:          Deve ser o saci novamente, apareça saci.
B. PAPÃO:     Não sou o saci.
TITINA:          Então é o chatonildo do príncipe.
B. PAPÃO:     Nananinanão.
TITNA:           Que voz estranha, está me assustando, quem é.
B. PAPÃO:    Isso, fique com bastante medo.
TITINA:          Está realmente me assustando, quero acordar desse sonho, não estou gostando nada disso.
B. PAPÃO:     Muito bom, muito bom, quanto mais se assustar maior vou ficar.
TITINA:            Há é? Pois você não sabe quem eu sou, sou a menina Titina que não tem medo de nada.
B. PAPÃO:     Mas, você precisa ter medo, precisa se assustar, eu vou lhe pegar.
TITINA:               Porque tenho que ter medo de você?
B. PAPÃO:      Porque sou o bicho papão.
TITINA:           Há tá, está explicado, mas dançou seu papão, não tenho medo de você, pode aparecer.
B. PAPÃO:     Eu só apareço se você tiver um pouco de medo, do contrário vou sumir prá bem longe daqui.
TITINA:          Tudo bem terei só um pouquinho de medo prá você aparecer, ok?
B. PAPÃO:    Isso dependo de você para aparecer, medo grande bicho papão.
TITINA:          Medo pequeno papãozinho.
B. PAPÃO:     É isso.
TITINA:          Deixe de conversa e apareça aonde esta escondido?
B. PAPÃO:      Aqui debaixo da sua cama.
TITINA:         Nossa como você é pequeno e feio. (Titina se abaixa e olha pra debaixo da cama)
B. PAPÃO:   Eu sou o seu bicho papão.
TITINA:         E cada criança tem um é?
B. PAPÃO:   Exatamente, sou produto de cada mente.
TITINA:          Como assim?
B. PAPÃO:   Eu existo a partir do momento que você acredita em mim.
TITINA:          E quando foi isso? Quando passei a acreditar.
B. PAPÃO:    No dia que alguém lhe falou que se não dormisse o bicho papão viria lhe pegar. Lembra?
TITINA:          Faz muito tempo, foi Darquinha minha babá que me fazia medo para eu dormir.
B. PAPÃO:     E então! Foi daí que eu nasci na sua cabeçinha, só existo por causa dos seus medos.
TITINA:         Se você é tão forte porque se esconde embaixo das camas ou nos armários?
B. PAPÃO:      Não me escondo, são vocês crianças que me imaginam nesses lugares, eu gostaria mesmo era de morar no Caribe, nas praias do nordeste do Brasil ou na ilha de Capri na Itália, adoro o mar azul ou verde esmeralda e seus peixinhos dourados, mas lá as crianças não tem tempo de terem medo de bicho papão, assim como você elas tem no máximo um papãozinho de estimação, é um sofrimento prá gente.
TITINA:           Nossa como você é bobo.
B. PAPÃO:                            Eu sou o bicho papão.
Escondo-me nos armário ou debaixo do colchão,
Dependo dos seus medos prá poder aparecer,
Pequeno ou gigante é você quem vai dizer
Se você tem um medinho
Apareço pequenininho
Porém se é um medão
Fico logo bem grandão
Porque sou o bicho papão.
Tem adulto que tem medo
Do escuro tem pavor
Foi uma criança medrosa
Que o bicho papão dominou.
Se não quer me encontrar
Nos armários ou qualquer lugar.
Basta dar boas risadas e o medo espantar.
Eu sou o bicho papão
Se você tem um medinho
Apareço pequenininho
Mas se for um medão
Fico logo bem grandão.


TITINA:         Tudo bem já entendi agora você tem que ir embora.
B. PAPÃO: Mas logo agora, que estou gostando.
TITINA:          Eu preciso dormir esse negócio de perder o sono não é legal.
B. PAPÃO: Pensei que havíamos ficado amigos.
TITINA:         Nunca, nunquinha, não quero ficar amigo de alguém que vive do medo dos outros, isso é maldade.
B. PAPÃO: Pensei que havia a enganado, como é esperta essa pirralha.
TITINA:        Que esta resmungando?
B. PAPÃO:     Nada não, estou indo, mas voltarei.
TITINA:         Nunca mais, dos meus medos cuido eu.
B. PAPÃO:     Veremos, veremos,
TITINA:            Claro que não nós veremos, adeus horroroso.
B. PAPÃO:      Acho que com essa menina não tem jeito mesmo, é melhor eu partir.
TITINA:            E já vai tarde, não tenho medo de você, se exploda de raiva, adeus.
TIO BETO:      Depois de conseguir as três respostas que lhe haviam encucado naqueles dias, a corajosa Titina foi dormir, com o propósito de que no dia seguinte ao acordar contaria para mim toda a aventura com a linda fada dos sonhos e seu mundo da fantasia, e foi isso que aconteceu. Feliz da vida descobriu que para tirarmos nossas dúvidas devemos recorrer aos livros e mestres e também precisamos enfrentar os nossos medos para seguirmos adiante, que viver é um grande espetáculo onde nós somos os atores principais. Titina é uma criança feliz.


FIM.